Uma grande e divertida homenagem a heróis capa e espada do passado, o filme é um deleite narrativo com ótimo equilíbrio entre ação e comédia.
Baseado no livro homônimo de William Goldman, “A Princesa Prometida” quase não chegou a ser produzido. Os direitos chegaram a ser vendidos para a Fox, mas o projeto acabou sendo engavetado, o que levou o próprio autor a usar seu próprio dinheiro para tê-los de volta. Após outras negociações infrutíferas, o diretor Rob Reiner conseguiu apoio do produtor Normal Lear (ambos trabalharam juntos em “Isto É Spinal Tap”) e o longa começou a ser desenvolvido.
O cineasta tinha grande carinho pelo romance e isso transborda pela tela. Não só pela decisão de trazer o escritor para adaptar o roteiro, mas também pela leveza com que cria o mundo apresentado, apoiado por ótimas decisões de escalação de atores que entregaram papéis marcantes.
A trama gira em torno de Westley (Cary Elwes) e Buttercup (Robin Wright), dois amantes que se veem separados pelas leis locais e pelas tramoias do ardiloso príncipe Humperdinck (Chris Sarandon). A aventura começa quando ela precisa ser resgatada e, na jornada, o protagonista encontra obstáculos e adversários, que rendem momentos brilhantes.
Na abertura, vemos um senhor (Peter Falk) lendo um livro para seu neto doente (Fred Savage). A princípio relutante, a história começa a cativar o garoto conforme a narração do avô se torna a do romance. É por esse ponto de vista que vai o espectador, que tem no menino a âncora narrativa (aquele que não possui as informações do universo e precisa de explicações) e igualmente o ponto de retorno à infância e àquele doce sentimento de inocência e pureza, que se maravilhava com histórias de heróis.
E este filme é uma baita homenagem a esse tipo de narrativa tão comum antigamente. Mescla elementos de fantasia e de obras de capa-e-espada da primeira metade do século XX, assim como se vale de sagaz ironia para trazer sua linguagem para os anos 1980 de forma que drible qualquer tom zombeteiro para, ao invés disso, honrar sua memória.
O arquétipo do herói elegante e infalível encontra em Cary Elwes uma escalação perfeita. O ator não só possui um ar de altivez que remete a grandes nomes do passado, como Douglas Fairbanks e Errol Flynn, como também sabe como poucos achar o equilíbrio necessário para vender exagero com absoluta verdade. O acerto de tom está até no infame bigode, ridículo para os padrões da época, mas certeiro para a proposta.
É impossível falar dessa produção sem mencionar o coadjuvante Inigo Montoya. A frase “Olá, meu nome é Inigo Montoya. Você matou meu pai. Prepare-se para morrer” é uma das mais icônicas e memoráveis da história da sétima arte e só ganhou o peso que tem pela interpretação divertida de Mandy Patinkin, que cativa em todas as suas interações. O embate entre Inigo e Westley traz uma das melhores sequências de luta de espadas da época, com coreografia de Bob Anderson (que trabalhou em “Star Wars”), pois rende um duelo empolgante e recheado de diálogos deliciosamente irreais, mais uma vez honrando o espírito capa e espada de outrora. Méritos aos atores por terem treinado esgrima com ambas as mãos e executarem as cenas sem dublês, o que permite uma miríade de planos para que o diretor torne a cena mais imersiva e impressionante.
Infelizmente, tal proposta resulta numa personagem título que acaba sendo apenas a donzela indefesa. Como era feito antigamente, ela é somente alguém que necessita de ajuda e acaba unidimensional e irreal demais, embora encontre na interpretação de Robin Wright o nível certo de ironia em sua postura e encaixe como uma luva na abordagem pedida pela narrativa.
Uma obra que abraça a fantasia extrema, além do ar utópico e romântico das histórias que busca homenagear, acerta em cheio ao convidar o espectador pra revisitar sentimentos de nostalgia que possa ter por qualquer herói de sua infância. Assim, “A Princesa Prometida” enaltece o vital papel de inspiração que essas figuras exercem sobre seus fãs e se torna uma grande celebração do poder do cinema e da ficção.