Com boa construção da protagonista, mas também uma narrativa que não faz questão de inovar nos clichês, filme de Reed Morano acaba proporcionando uma experiência decepcionante.
“O Ritmo da Vingança” conta a história de Stephanie (Blake Lively), uma jovem que perde tudo quando um acidente de avião mata seus familiares e desencadeia o declínio total de sua vida. Quatro anos depois, quando procurada pelo jornalista Keith Proctor (Raza Jaffrey), Stephanie descobre que o acidente foi na verdade um ataque terrorista, fato que a polícia decidiu ocultar. Ela então decide ir atrás de vingança daqueles que planejaram o atentado, contando com a ajuda de Boyd (Jude Law), ex-MI6 e fonte de Proctor, para treiná-la.
Dirigido por Reed Morano e roteirizado por Mark Burnell, o elemento do filme que mais funciona é a atuação de Lively. Irreconhecível em relação às personagens que já interpretou antes, a atriz consegue entregar uma performance que rouba a atenção em todos os momentos que está em cena. Stephanie é introspectiva e claramente passou por outros traumas, além do acidente, desde que o mesmo aconteceu, e ela consegue transmitir tudo isso até nos maneirismos mais sutis. O início marca o contraste entre três épocas da vida da personagem: quem ela era antes do desastre, quem se tornou quatro anos depois e ainda mais posteriormente, quando inicia sua vingança. É interessante imaginar como Stephanie pulou de cada ponto para o outro, mesmo que às vezes a obra não faça um bom trabalho em explicar porque sua vida mudou tão drasticamente entre as passagens de tempo. Ele apenas joga os fatos na tela, pedindo que a audiência aceite, em momentos e sem mais questionamentos, elementos que beiram o absurdo.
O roteiro também constrói a personagem de forma que, após passar pelo treinamento de Boyd, ela não se transforma em uma máquina de matar infalível. Ela ainda duvida de si em diversos momentos quando começa a executar seu plano de vingança, nem sempre confiando na hora de tomar decisões difíceis. Esta é uma escolha que faz bastante sentido para quem Stephanie é até aquele momento da narrativa, mas que pode irritar o espectador que deseja um filme com uma protagonista mais incisiva.
Os pontos negativos mais proeminentes da obra de Morano são a maneira como alguns laços entre personagens e elementos da história acabam se formando muito rapidamente e com bastante facilidade, acompanhados de uma montagem que parece ter cortado cenas importantes de forma bagunçada, apenas para a trama andar num ritmo mais frenético e cortar alguns minutos do filme. Infelizmente, isso faz com que a imersão seja quebrada em diversos momentos. Alguns exemplos são a rapidez com que o relacionamento entre Stephanie e Boyd se desenrola já que de início não se mostra muito feliz em ajudá-la, e quando ela está supostamente pronta para ir a campo. Suas habilidades de interagir com outras pessoas voltam rápido demais para quem estava reclusa e se encolhia apenas com alguém chegando próximo a ela. A trilha sonora de Steve Mazzaro também não ajuda, pois tenta inserir um ar de aventura que não combina em nada com o tom sombrio que Morano utilizou na sua direção.
A narrativa toma um caminho estranho no terceiro ato, escolhendo uma saída bastante clichê que o texto não fez questão de executar de forma inovadora. Apesar de fechar o arco da protagonista de forma relativamente eficiente, acaba sendo fraco e quase anticlimático para o que tinha potencial de desenvolver. No mais, “O Ritmo da Vingança” é o tipo de filme que só vai agradar quem entrar de cabeça na história da protagonista, por ter alguns problemas de ritmo e não inovar nos clichês apresentados. A obra entretém o suficiente, mas é possível que, quando se pare para pensar sobre todos os acontecimentos, prevaleça a sensação de que não aconteceu tanta coisa assim na sua duração de quase duas horas, tornando aos poucos a experiência em algo esquecível.