Adaptação da história em quadrinhos oferece bom visual e boas metáforas para a psique da protagonista, mas derrapa em final apressado e expositivo em excesso.
Barbara (Madison Wolfe) é uma adolescente de uma pequena cidade costeira dos Estados Unidos. O público a conhece na cena de abertura de “Caçadora de Gigantes”, onde ela se aventura num bosque em busca de ingrediente para criar um geleia vermelha que serve como isca de gigantes. Nota-se logo como o roteiro já apresenta sua protagonista sem rodeios. Descobre-se rapidamente que ela mora com um irmão egoísta também adolescente e sua irmã adulta, que parece tentar se dividir em três para dar conta de cuidar da casa e dos jovens. Em uma de suas expedições para verificar uma de suas várias armadilhas espalhadas pela cidade, ela conhece Sophia (Sydney Wade), uma inglesa que recentemente se mudou para o local e busca fazer amigos.
Esta obra é baseada na história em quadrinhos “Eu Mato Gigantes”, de Joe Kelly e JM Ken Nimura, publicada no Brasil pela editora NewPOP. Como apontam os títulos, Barbara se diz protetora da cidade, tendo sempre à mão uma bolsa com um objeto que ela acredita ser uma arma letal contra gigantes. Suas crenças são tão verdadeiras que levantam suspeitas da psicóloga da escola (Zoe Saldana), que tenta conquistar a confiança da garota e descobrir de onde vêm tais fantasias. A interpretação de Zoe traz equilíbrio a uma personagem que poderia ser caricata demais.
Para os espectadores, fica óbvio desde o início que os gigantes são uma metáfora para um problema mais sério, o que torna a trama mais honesta. Tudo gira em volta de descobrir o que causa as aflições da protagonista, e tanto a psicóloga como Sophia são elementos narrativos bem dosados para amavelmente cutucar feridas com suas curiosidades.
O visual do filme, com fotografia cheia de filtros azuis e cinzas, mantém um clima melancólico e sombrio, que espelha bem a alma de Barbara. É uma obra que prova que longas com monstros não precisam de efeitos especiais de alto orçamento para criar a noção da presença da ameaça e do medo. Mesmo assim, há sim criaturas fantásticas em tela e elas convencem como presença física.
Passamos a torcer para que seus embates com seus adversários a levem à superação de fantasmas que a assombram, mas nem sempre o resultado é o esperado e tais batalhas podem, na verdade, estar reforçando sua fuga da realidade. É interessante notar como o longa nunca fica didático demais e transita bem no imaginário infantil como ferramenta para lidar com amadurecimentos forçados que a vida, por vezes, impõe em mentes ainda longe de estarem preparadas.
O grande problema do roteiro é quando a realidade finalmente vem de encontro à protagonista. Tudo começa com um diálogo tão expositivo que desperdiça o potencial que o texto vinha construindo até então, transformando o resto do clímax num momento artificial que rouba o espectador da boa experiência que vinha tendo. “Caçadora de Gigantes” é uma obra interessante, mas que se torna esquecível com seu final apressado, que joga fora o que o filme vinha apresentando de cativante. Apesar disso, ainda pode render ponderações intrigantes com suas boas metáforas.