Nova adaptação do clássico conto "A Mão do Macaco" não explora satisfatoriamente os temas que propõe e se preocupa mais com o visual que com sua narrativa.
Poucos contos foram tão adaptados quanto “A Mão do Macaco” de W. W. Jacobs, publicado no início do século XX quase ao mesmo tempo da criação do cinema. Em termos gerais, a trama materializa o ditado “cuidado com o que você deseja”. Um artefato fantástico tem o poder de realizar desejos incondicionais, mas sobrenaturalmente faz com que cada pedido seja atendido com graves consequências impensadas. Tal estrutura permeia várias obras de terror já feitas, como “Cemitério Maldito”, além de episódios de TV como em “Além da Imaginação”, “Arquivo X” e “Os Simpsons”. Em “A Sala”, a relíquia enfeitiçada é substituída por um misterioso quarto numa casa abandonada.
O casal Kate (Olga Kurylenko) e Matt (Kevin Janssens) se muda para uma grande e remota mansão. Ela é tradutora, ele é pintor, mas o contexto dos personagens pouco importa. O roteiro se apressa em montar os arquétipos a partir de diálogos expositivos, além de semear o mistério: os antigos donos foram assassinados na própria casa. Finalmente o grande artifício é apresentado. Dentro de uma sala secreta, qualquer pedido feito pelo casal se torna real inexplicavelmente.
Dirigido pelo francês Christian Volckman, “A Sala” lida com uma premissa difícil de dominar, pois a ideia de enfrentar as consequências negativas da ambição humana gera muitas expectativas. Trata-se de uma inquietação natural da existência, a ganância, o “ter” contra o “ser”. Para restringir o escopo ao objetivo do filme, Christian aposta no visual em detrimento do roteiro escrito a seis mãos. O que Matt e Kate pedem dentro do quarto serve às limitações da história e do orçamento. Por consequência, os já esperados buracos na trama são imensos na obra. Por mais que o diretor tenha uma proposta interessante no design de produção dada a restrição financeira, um bom drama precisa de identificação, necessita que as ações dos personagens sejam críveis. Dessa forma, Volckman não deu a devida atenção aos desdobramentos das decisões de roteiro, comprometendo assim o envolvimento do público.
Quando chega-se aos momentos em que a história requer saltos de fé ao espectador, é de se pedir demais. As consequências das ações do casal protagonista dentro da casa implicam temas bastante perturbadores e que por isso mereciam um tratamento melhor. No entanto, o desfecho de “A Sala” caminha somente para a solução de problemas, sem explorar significados nem dar margem para reflexões. A produção até consegue criar uma atmosfera própria, merecendo o status de thriller psicológico sem apelar para muitos clichês, porém, ela só pode ir tão longe quanto a profundidade da sua história.
Não é possível intuir com certeza o que levou à decisão de manter um ritmo relativamente veloz na montagem de “A Sala”. Os temas abordados poderiam sustentar várias horas de uma minissérie, como se dá com sucesso em “American Horror Story” ou em “A Maldição da Residência Hill”. Como resultado, vê-se um drama insosso, por vezes exagerado, além de apressado. Trabalhar o sobrenatural ou a fantasia nunca foi desculpa para não ancorar os conflitos na realidade, mas o filme se perde nas próprias regras que cria e descarrila por inteiro no ato final. Resta somente a expectativa frustrada e a tristeza pelo tempo mal investido.