Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 25 de abril de 2020

Resgate (Netflix, 2020): ação feita por quem sabe

Em seu primeiro longa-metragem, o diretor Sam Hargrave coloca em cena tudo que aprendeu na carreira de dublê. O resultado é muita criatividade, perseguição e qualidade com o texto de Joe Russo como cereja do bolo.

Um garoto foi sequestrado e o protagonista ex-militar precisa preparar um plano para trazê-lo de volta. Quantas vezes essa sinopse já foi feita em filmes de ação? Algumas dezenas de vezes, pelo menos. Mas nem por isso “Resgate” merece ser tratado com desdém. A nova produção da Netflix é um ótimo filme de ação. Chris Hemsworth interpreta Tyler Rake, um membro de um grupo de mercenários enviados para a Índia para resgatar Ovi Mahajan (Rudhraksh Jaiswal), um adolescente de 14 anos, filho de um traficante de drogas que está preso.

O jovem foi sequestrado pelos capangas de Amir Asif, um gângster de muita influência de Bangladesh, conhecido como o Pablo Escobar da cidade de Daca. Além de se infiltrar no grupo para ter a localização exata do menino, eles precisam retornar para um ponto de resgate, onde a equipe pode buscá-los. Mas tem um pequeno porém: Amir já mandou fechar as fronteiras da cidade e começa assim uma caçada para encontrar Tyler e Ovi.

O conjunto das cenas de ação é o destaque do filme, muito por conta de dois nomes: o diretor Sam Hargrave, que estreia no comando de longa-metragem, e o roteirista Joe Russo (diretor de “Vingadores: Ultimato”). O primeiro, tem sua carreira construída como dublê – ele fez parte das ótimas sequências de luta de “Capitão América 2: O Soldado Invernal”, por exemplo. O segundo, habitualmente creditado em conjunto com seu irmão Anthony Russo, propõe um texto baseado na graphic novel “Ciudad“, escrita por Ande Parks e pelos próprios Irmãos Russo.

Hargrave não tem receio de mostrar a violência das brigas, tiros e sangue. Dá para sentir o peso dos chutes e socos. Tyler bate muito, mas também apanha até dizer chega. Em uma das diversas cenas de ação, o diretor realiza um enorme plano-sequência em uma perseguição à lá “1917” e seus cortes escondidos. Com a sensação de câmera na mão, o espectador é colocado no meio da tensão. Em um determinado momento, a câmera transita dentro e fora do carro, mostrando a visão de Tyler e do que está acontecendo ao redor. Outro ponto diferente é que o protagonista erra o caminho, desvia de pessoas, bate em outros carros, é imperfeito propositalmente e é de tirar o fôlego.

Outro ponto que precisa ser destacado é o trabalho impecável de dublês, que nunca deve ser deixado de lado em filmes como esse. Além das boas cenas de luta, é divertido acompanhar como os próprios câmeras também se jogam de prédios e se colocam no meio das brigas.

Já Hemsworth tem a versatilidade de se encontrar tanto na comédia quanto na ação e aproveita muito do que Jackie Chan usa em seus filmes: utilizar o que tem a sua frente como um objeto de briga. O protagonista usa copos, mesas, tijolos e até uma ferramenta de jardinagem para matar seus inimigos. A criatividade não tem limites e isso deixa a coreografia de luta com uma proposta de improviso muito benéfica para a obra.

Nas cenas mais tranquilas, o roteirista Joe Russo tenta encaixar uma crítica social a respeito da quantidade de crianças e adolescentes envolvidos em facções criminosas, porém não dá tempo de desenvolver essa história, que tinha potencial.

“Resgate” não chega para revolucionar os filmes de ação e nem tem essa pretensão. Mas mostra que é possível ser criativo, sem ficar cansativo. Não é só colocar uma sequência de explosões. Ouviu, Michael Bay?

Fábio Rossini
@FabioRossinii

Compartilhe