O primeiro filme oficial do aclamado Studio Ghibli, é uma aventura nos céus, com ação, humor e a pureza que as crianças merecem.
Após o sucesso do filme “Nausicaä do vale do Vento”, seus criadores fundaram o Studio Ghibli, um dos maiores e mais famosos estúdios de animação do mundo, responsável por filmes icônicos como “A Viagem de Chihiro” e “Meu Amigo Totoro”. Porém, antes de todos os mais de vinte filmes que carregam o selo do que hoje é a maior referência do gênero nas terras nipônicas, um filme despretensioso, voltado totalmente para o público infantil pavimentou a história do estúdio: “O Castelo no Céu”.
A estreia do Studio Ghibli no mundo é um filme de Hayao Miyazaki que começa contando a história de Sheeta (Keiko Yokozawa), uma menina que está sendo perseguida por piratas e militares, ambos atrás de uma misteriosa pedra em seu colar. Durante uma perseguição em um dirigível, a menina cai, mas é protegida pelos poderes da pedra. Em solo, Sheeta é encontrada por Pazu (Mayumi Tanaka), um menino órfão que trabalha em uma mina de carvão, mas é um engenheiro em suas horas vagas, pois almeja construir um veículo que o leve para o meio das nuvens, a fim de desvendar uma misteriosa ilha flutuante, que um dia seu falecido pai encontrou. Logo os piratas e os militares encontram Sheeta em solo e assim, as crianças iniciam uma jornada de fuga e busca por uma ilha no céu chamada Laputa, que esconde segredos relacionados ao passado da menina.
A pedra no colar de Sheeta é a chave para encontrar Laputa e funciona como o MacGuffin da história, o que importa são os objetivos que cada núcleo de personagens possui. Pazu quer provar que seu pai estava certo, Sheeta quer se conectar com o passado, os piratas querem os tesouros da ilha e Muska (Minori Terada), o grande vilão que comanda os militares, quer poder. Os mistérios e a história do castelo são irrelevantes e se resumem aos belos créditos iniciais – no estilo da xilogravura vitoriana – que contam a lenda de toda uma sociedade que dominou os céus, mas retornaram à terra após alguns eventos infortúnios, sobrando apenas a abandonada ilha Laputa.
Assim, a animação flerta com discussões como o uso da tecnologia e seus efeitos na sociedade, como recurso para o desenvolvimento da mesma ou a causa de sua destruição, a depender da índole de quem dela se apropria – por exemplo, a bomba atômica, que foi desenvolvida a partir de importantes descobertas científicas, mas foi usada de forma terrível, silenciando milhares de pessoas para sempre. A importância da natureza para os seres humanos também é um assunto debatido, pois na visão do autor, não importa o quão evoluímos nossa tecnologia, sempre voltaremos à vida orgânica, porque dela dependemos. Já a natureza, esta segue muito bem sem nossa interferência e sempre prevalecerá.
No entanto, tais mensagens não são fundamentais para a trama. É um longa que não precisa de extensos debates para ser apreciado, mas sim uma aventura sobre exploração totalmente pensada para crianças, com inocência e simplicidade. O grande diferencial está em seu estilo de animação. A forma como são imaginadas as mecânicas dos veículos, da cidade e da própria ilha de Laputa é ímpar, com muita riqueza nos detalhes e um visual que atualmente se assemelha ao steampunk. Além disso, os aclamados planos silenciosos de pura contemplação, característicos de Miyazaki e do estilo de animação japonês em geral, estão presentes, porém para este longa não funcionam bem, podendo prejudicar o ritmo em alguns momentos. O filme equilibra bem ação e humor, de forma pueril graças ao carisma de seus personagens, principalmente de Dola (Kotoe Hatsui), líder dos piratas, que mesmo não sendo uma das principais, se destaca por sua personalidade bem trabalhada e cativante. Já o vilão Muska, deixa a desejar em suas ambições rasas.
“O Castelo no Céu” é um filme singelo, simples, que dentre tantos outros também evidencia a paixão de Miyazaki pela aviação. É totalmente voltado para o público infantil, mas um clássico que merece ser revisitado para quem busca a nostalgia do estilo de sua época.