Com uma proposta não original, mas promissora, filme dos roteiristas de "Se Beber Não Case" faz o básico e perde a oportunidade de se aprofundar em uma discussão interessante sobre as relações humanas no mundo moderno.
Imagine uma nova reunião dos roteiristas do premiado “Se Beber, Não Case!“ para fazer uma versão cômica do filme “Ela”, no qual o mote é uma crítica à dependência exacerbada da tecnologia e como isso afeta nosso comportamento social. E mais, Wanda Sykes integra o elenco! Sem dúvidas, “Jexi – Um Celular Sem Filtro” é um projeto que gera expectativas.
A produção conta a história de Phil (Adam DeVine), um homem que desde criança foi acostumado a escapar dos conflitos mergulhando no entretenimento que os gadgets proporcionam. Como resultado, ele se tornou um adulto com pouco traquejo social, que não enxerga sua existência fora da tela de seu smartphone e que se esconde atrás dos filtros das redes sociais, construindo uma falsa imagem de felicidade em troca de likes. Qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência. A narrativa deixa clara a mensagem de que o vício do homem pela vida virtual não é exclusividade dele, mostrando uma São Francisco repleta de pessoas desconectadas umas das outras e escravas da internet.
Tudo muda quando o protagonista se envolve num pequeno acidente e se vê obrigado a trocar de celular. Graças a essa situação, o personagem de encontra as duas “mulheres” que mudarão drasticamente a sua vida: Cate (Alexandra Shipp), uma mulher de espírito livre, aventureira, dona de uma loja de bicicletas, pela qual Phil fica instantaneamente apaixonado. E Jexi (Rose Byrne), a assistente de seu novo smartphone, uma versão mais cruel e independente da Siri da Apple, cujo propósito é tornar a experiência do usuário melhor. Basta concordar com os termos de uso.
Apesar de uma proposta promissora, o filme logo se revela não ser mais do que uma comédia romântica clichê. O roteiro não arranha nem a superfície da discussão que propõe e prefere jogar no garantido, com uma sequência de ações extremamente previsíveis. O humor fica por conta de Jexi, que aposta em piadas de insultos baratos, com um timing terrível, que logo nas primeiras cenas cansam e desinteressam. E a obra parece perceber que não há nada além disso a oferecer, pois logo introduz uma virada na relação entre a assistente virtual e Phil que não faz o menor sentido a não ser como uma desculpa para mover a história pra frente. A péssima química do casal principal também contribui para os espaços vazios no ritmo do longa. Embora Alexandra Shipp entregue uma performance agradável, é difícil comprar o personagem de Adam DeVine como par romântico de Cate, principalmente durante os momentos de crise e resolução, que – assim como a mudança do objetivo de Jexi – parecem surgir forçadamente.
Do outro lado da trama se encontram as relações profissionais do protagonista. A atuação de Michael Peña como Kai, o chefe de Phil, mira no cringe comedy, – uma tentativa de emular “The Office”, apoiando-se também na câmera trêmula – mas é apenas desconfortável e sem graça. A dinâmica entre os colegas de escritório, diferente do romance central, é bem interessante e agradável de assistir, porém o desenvolvimento desse núcleo é abandonado, esquecendo até as consequências de certa situação grave que ocorre no ambiente de trabalho. Prefere-se, então, entregar uma solução fácil para ter o final feliz típico do gênero.
Todos esses problemas poderiam ser relevados se a parte mais importante fosse certeira: as piadas de Jexi. Porém, elas não funcionam. Para quem tem interesse em histórias sobre I.A. e como isso influencia nossas interações sociais, assista a “Ela”. Para quem quer se divertir com as piadas, fique com o trailer (elas estão todas lá e com uma montagem bem melhor). “Jexi – Um Celular Sem Filtro” é apenas um filme que desperdiçou todo seu potencial.