Cinema com Rapadura

OPINIÃO   terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

A Despedida (2019): um adeus divertido e melancólico

Awkwafina encanta no comovente "A Despedida", um filme divertido e original como as produções independentes podem ser.

Billi (Awkwafina) está na casa dos 30 anos, mora em Nova York e não conseguiu conquistar estabilidade financeira em sua vida, motivo pelo qual é cobrada pelos pais chineses, que também moram na cidade. A jovem adulta conseguiu se manter próxima da sua avó, que vive na China. Elas se falam com frequência pelo telefone e têm um carinho especial uma pela outra, o que motiva os demais familiares a esconderem, inicialmente, a condição da matriarca Nai Nai (Shuzhen Zhao) de Billi.

Nai Nai tem câncer terminal e tem pouco tempo de vida. Ela mesma não sabe disso, algo que, por mais estranho que pareça, é bastante comum na China. Os próprios médicos apresentam os diagnósticos para os familiares e concordam em não passar para o paciente a gravidade de uma determinada condição. E, é por conta dessa situação triste e complicada que os filhos e netos da simpática senhorinha decidem organizar um casamento às pressas para servir como “A Despedida“, título do filme em português.

É difícil acreditar que este é somente o segundo longa-metragem de Lulu Wang, responsável também por “Póstumo“. A diretora e roteirista de “A Despedida” mostra uma sobriedade e um domínio técnico que geralmente só é alcançado com alguma experiência. No texto e nas interpretações o que chama a atenção são as emoções contidas, o sentimento de tristeza que se tenta maquiar com o fato de todos os personagens estarem diante de uma festa de casamento. E tudo vai fazendo mais sentido com o passar do tempo, como o texto inicial que diz: “Baseado em uma mentira real”, em tradução livre, pois se trata de uma história inspirada na vida de Wang.

O elenco traz o tom de veracidade que o enredo exige. Os pais de Billi, Haiyan (Tzi Ma) e Jian (Diana Lin) entregam performances sem exageros e capazes de transmitir todo o sentimento deles. Mas na personagem de Nai Nai que sentimos o calor humano e o carinho por toda a família, seu apego às tradições e costumes e o choque cultural com Billi, criada desde de pequena nos EUA.

Awkwafina está excelente como Billi, mostra a sua versatilidade ao conseguir encarar um drama, que, mesmo com seus momentos cômicos, exige algo diferente do que ela havia entregado em seus últimos trabalhos. E, ao servir como ponte para o público ocidental, ela representa bem os espectadores ocidentais que devem acompanhar “A Despedida” no serviço de streaming Amazon Prime Video. Desde a chegada na China, apresentando as duras estruturas arquitetônicas que parecem se multiplicar como coelhos, até às reuniões ao redor de uma mesa circular que integra a família inteira.

Esse lançamento é mais uma ótima produção independente, para quem está cansado de remakes e continuações. Uma pérola indie que deve aquecer o coração de toda a família. Mas não pense que, por não ter orçamento grandiosos, falte algo em “A Despedida”. Muito pelo contrário, as pouco mais de duas horas e meia são divertidas, interessantes e muito bem construídas. Seja no texto claro e realista, performances sutis e comoventes e nos detalhes do design de produção, que dá para a casa de Nai Nai um gostinho de casa da avó como há no Brasil.

Hiago Leal
@rapadura

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