A segunda temporada da série trouxe mais ação, mais conflitos e mais complexidade em seu roteiro ímpar. Bill Hader executa um bom trabalho como ator e também na direção de um episódio de tirar o fôlego.
No primeiro ano da série, fomos apresentados a uma inusitada história de um assassino de aluguel que vai para Hollywood tentar ser ator. Embora seja um exímio matador, sua falta de talento nas artes cênicas não o impediram de tentar sair dessa vida cercada por morte, rendendo uma trama carregada de humor ácido e cenas de deixar o coração na mão. Após um forte finale, a primeira temporada de “Barry” encerra instigante e ao mesmo tempo deixa o questionamento: o que mais os criadores Bill Hader e Alec Berg têm para oferecer?
A segunda temporada segue a história imediatamente após os eventos da primeira. O grupo de teatro, principalmente Gene Cousineau (Henry Winkler), está abalado com o desaparecimento de uma importante personagem. Barry, agora menos travado, mais confiante e com uma ligeira melhora em suas habilidades de interpretação, está determinado a motivar os colegas para a apresentação de uma peça. Enquanto isso, NoHo Hank (Anthony Carrigan) sente que a aproximação da máfia birmanesa ameaça sua relação com Cristobal (Michael Irby) e os bolivianos. Já Fuches (Stephen Root) está tendo problemas em tocar seu negócio sem um assassino à altura de Barry, o que o deixará mais vulnerável à polícia. E acredite, a história desses três núcleos vão se entrelaçar magistralmente.
Se a primeira temporada começou devagar, nessa o engajamento é certo desde o primeiro episódio, pois agora o espectador já está envolvido com a trama e seus personagens – que foram muito bem desenvolvidos anteriormente. O roteiro não perde tempo e desdobra um por um os seus conflitos suavemente, mas ainda sim deixando o público sem fôlego. Não é uma tarefa fácil para um roteirista fazer tramas de núcleos diferentes se encontrarem sem parecer forçado ou deixar alguma barriga – aquela parte ou aquele episódio que fica meio solto e desinteressante. No entanto, a série fisga o espectador e amarra todas as pontas, mesmo tendo um episódio inteiro, no meio da temporada, de pura ação e quase sem diálogos – o melhor episódio, diga-se de passagem.
As relações dos personagens ficam cada vez mais complexas e o nível de suas histórias cresce a cada capítulo, com pontos de virada a todo momento. Há uma grande discussão geral sobre a essência de cada um. Enquanto Cousineau tenta se aproximar de um filho que ele abandonou, Sally (Sarah Goldberg) confronta as memórias de seu prévio relacionamento abusivo. A crítica sobre o sexismo em Hollywood ganha mais profundidade através dos conflitos da mulher ao tentar se colocar no mercado, assunto que foi rapidamente sugerido no ano anterior. Quanto a Barry, suas fantasias são aqui substituídas por flashbacks, possibilitando um maior entendimento sobre o protagonista e seu passado sombrio como fuzileiro naval.
A força motriz do enredo permanece a mesma: cada vez que Barry se recusa a cumprir com seu “dever”, os problemas pioram, pondo em risco a vida de outras pessoas. Porém desta vez o roteiro parece se dobrar para proteger alguns personagens, o que por enquanto não afeta a qualidade dos episódios, mas para uma temporada seguinte pode comprometer os efeitos angustiantes provocados no espectador, que faz a série ser tão cativante.
O humor, embora ainda presente principalmente no primeiro episódio, é ligeiramente sufocado e não consegue aliviar a tensão quase irrefreável. É difícil rir de algumas piadas quando estamos envolvidos em situações extremamente enervantes. Porém, embora isso seja um ponto de queda de qualidade quando comparado à temporada predecessora, não é um grande problema. O segundo ano do seriado consegue expandir uma história de enredo inesperado, sem fazer mais do mesmo, trazendo mais complexidade e com uma execução de cair o queixo. E, mais uma vez, com um finale de deixar qualquer um ansioso por mais. O que mais a dupla criativa Hader e Berg terá para oferecer, certamente estamos prontos para receber.