Com uma premissa interessante que poderia resultar em uma boa comédia dramática, filme de Louis Garrel não foca o suficiente em nenhum de seus elementos mais importantes para se tornar uma obra completamente competente em algum deles.
“Um Homem Fiel”, segundo longa-metragem dirigido (e estrelado) pelo renomado ator francês Louis Garrel (que fez parte recentemente de “Adoráveis Mulheres”), conta a história de um “quarteto” amoroso: Marianne (Laetitia Casta) deixa Abel (Garrel) por Paul, seu melhor amigo com quem ela estava tendo um caso onde eventualmente ficou grávida. Oito anos mais tarde, Paul morre subitamente e Abel acaba entrando na vida de Marianne mais uma vez, enquanto a irmã mais nova de Paul, Eve (Lily-Rose Depp) começa a demonstrar afeição amorosa pelo protagonista.
O filme de Garrel, com roteiro do mesmo em colaboração com Jean-Claude Carrière (“Amante Por Um Dia”), não leva nenhum de seus temas muito a sério, o que pode ter sido intencional por se tratar de uma comédia dramática. Porém a forma em que esses aspectos foram executados acabou dificultando todo o desenvolvimento da narrativa e seus personagens. O protagonista Abel é completamente manipulado por aqueles ao seu redor, aceitando facilmente toda e qualquer mudança drástica na sua vida. Na primeira cena, onde Marianne confessa seu caso extraconjugal com seu melhor amigo e sua gravidez, Abel fica apático e mal reage, aceitando tudo muito facilmente, não mostrando um traço de tristeza ou qualquer outro sentimento nem no momento nem em cenas posteriores. Seu jeito completamente manipulável traz alguns momentos engraçados, porém também afasta a possibilidade de se criar uma conexão com seu personagem. Seria interessante se pelo menos um dos plots fossem realmente aprofundados para envolver o espectador de forma mais concreta na história. O humor do filme está mais em rir da forma séria como ele trata pontos que beiram o ridículo, mas onde faltam substância, o que pode confundir mais do que ser efetivo.
Sem apresentar química com nenhuma das mulheres que estão tentando ganhar sua atenção, fica difícil também se envolver no aspecto romântico. Com uma história curta de apenas 75 minutos, descobrimos mais sobre os personagens com narrações deles mesmos sobre momentos que acabaram de acontecer em tela. Talvez por não ter tempo de desenvolver a história numa narrativa maior, ou por decisão artística, essa abordagem de falar mais do que mostrar também compromete muito do filme e torna sua construção preguiçosa. Os personagens em quase nenhum momento apresentam fatores sutis sobre si mesmos que façam a audiência entender seus sentimentos e motivações sem tanta exposição. De certa forma, parece que o cinema talvez não fosse a melhor mídia para uma história que precisa se explicar tanto em diversos momentos.
Não apenas Abel, mas Marianne e Eve também não possuem muita personalidade. A Marianne de Casta não apresenta nenhum carisma. Já a Eve de Lily-Rose Depp, mesmo sendo definida com apenas um traço importante sobre ela, é a personagem que mais cativa, iluminando a tela com cada aparição.
É difícil, ao decorrer da narrativa, se importar com como aquela história vai acabar pois nenhuma situação apresenta conflitos ou consequências reais para os personagens, que raramente parecem se importar com o desenrolar de suas próprias vidas: ninguém aparenta ser de fato emocionalmente conectado a ninguém, infidelidade é tratado como algo não muito sério num contexto onde deveria ser, perguntas importantes são feitas apenas anos depois por Abel à Marianne quando as respostam seriam de extrema importância para ambos desde o início, e o pior de todos: as decisões bruscas tomadas pelo protagonista.
Até tentando inserir um pouco de suspense em um plot com Abel e Joseph, filho de Marianne e Paul, o filme também não constrói tensão nas cenas necessárias. Observando como um todo, talvez esta fosse a intenção, mas ainda assim é estranho ver toda uma narrativa que trata temas tão importantes de forma tão blasé. E esse plot, como alguns outros, simplesmente some do filme na metade do segundo ato, o que coloca em questão a necessidade dele dentro de uma história que já é tão curta. Uma forma interessante de tentar conectar mais estes personagens entre si e com a audiência poderia ser retratando a amizade entre Marianne, Abel e Paul, e o relacionamento do último com a sua irmã, porém Paul não aparece em tela em nenhum momento.
Sendo superficialmente interessante, “Um Homem Fiel” entretém, porém, suas meras 1h15m de duração parecem mais extensas do que realmente são. Por isso, acabam deixando um gosto amargo na boca do espectador, que pode acabar o filme sem entender de fato qual foi o ponto principal da história, já que nem mesmo quem o produziu parece saber.