Dirigida e protagonizada por Bill Hader, a série da HBO equilibra humor e drama num roteiro inusitado, original e com atuações marcantes.
A história do carinha desajustado que quer ser ator e namorar a mulher mais popular da sua turma do teatro? Ou a de um veterano de guerra deprimido que se torna um assassino de aluguel imbatível? Acredite, “Barry” retrata as duas através de seu protagonista, misturando comédia, drama e muito, muito sangue – como é explícito na cena de abertura, que deixa em primeiro plano os miolos estourados do desafortunado alvo do matador.
A série, distribuída pela HBO, começa com Barry (Bill Hader) esgotado pelo seu trabalho como assassino de aluguel e tentando expressar para Fuches (Stephen Root) – o homem responsável pelos negócios e uma espécie de tutor – o vazio e depressão que anda sentindo. Porém, ele não consegue o descanso que queria e é convencido a pegar mais um serviço em Los Angeles. O contratante, líder da máfia chechena, deseja se vingar de Ryan Madison (Tyler Jacob Moore), que está envolvido com sua esposa. O seu alvo é o aspirante a ator e, ao segui-lo, se depara com uma pequena companhia teatral e acaba, pela sua constante passividade, sendo convencido a contracenar com Ryan. Embora não tenha o menor talento, principalmente por sua dificuldade de lidar com as emoções, ele se convence de que este é seu novo propósito na vida. Mas, não será fácil convencer Fuches, assim como os chechenos, a deixar seu ofício.
A produção se desenvolve a partir desse dilema do protagonista: ser um matador excepcional e um péssimo artista mas precisar se recolocar na sociedade ou ter uma vida social normal e encontrar seu papel no meio dela. Barry, que sequer está no Facebook, pela primeira vez experimenta fazer parte de uma comunidade e liberar suas emoções. Elas são tão reprimidas que acaba sempre manipulado pelos dois lados de sua vida dupla: por seu tutor, considerado como sua família, e pelos colegas do teatro, principalmente seu interesse amoroso, Sally (Sarah Goldberg).
As situações vão escalonando cada vez que Barry questiona seu trabalho e tenta se desvencilhar de suas obrigações. A narrativa acaba por se dividir em três núcleos: a equipe de investigação do assassinato de Ryan, o grupo teatral e a máfia chechena. Cada um deles adiciona doses de humor, desenvolvendo e conectando acertadamente seus personagens centrais, com destaque para a atuação hilária de Anthony Carrigan no papel de NoHo Hank. Ele interpreta o braço direito do líder da máfia chechena e rouba todos os holofotes quando em cena.
Existe também um brilho especial na série, por conseguir equilibrar elementos tão contrastantes como o drama pesado e o humor hilariante. Ambos se retroalimentam, num balanço perfeito em que a tensão constrói o riso e o riso reforça o dramático. Uma combinação que, com o mínimo dos erros, poderia ser catastrófica, porém a série, através de um bom roteiro e direção e de ótimas atuações, conseguiu a proeza de acertar. Em tela, Bill Hader é magnético e entrega um gradiente completo de emoções, que vai da apatia à comédia. Mesmo que o homem tenha muitas travas emocionais e seja alguém indecifrável para os demais, é fácil ler os sentimentos e conflitos do protagonista através do trabalho do intérprete.
Os personagens secundários parecem ser rotulados a princípio, entretanto a cada episódio suas características são desenvolvidas provando que não se tratam de pessoas unilaterais. Assim é fácil se relacionar até com aqueles que pareciam um tanto antipáticos. Sally é claramente a mais privilegiada do grupo artístico, apresentada como arrogante e manipuladora e capaz de colocar seus dramas pessoais acima de qualquer um, diminuindo os outros. No entanto, é possível empatizar com sua luta para alcançar seus sonhos no meio de uma indústria injusta principalmente com as mulheres. Gene Cousineau (Henry Winkler) até pode ser o diretor charlatão da companhia de teatro e um ator malsucedido querendo ganhar dinheiro, contudo sabe reconhecer um talento real e esconde uma face mais sensível e humana, que se revela no relacionamento com outros personagens.
O ritmo é morno nos primeiros episódios, algo que, para alguns, pode dificultar o engajamento. Porém, a partir do terceiro e quarto episódios a série cresce, envolvendo o espectador e entregando um desfecho poderoso. Apesar de poder não ser uma temporada excelente, é nítido que algo muito especial está começando, tendo potencial de ser um dos próximos grandes shows do momento e que certamente deixará o público ansioso para assistir o que virá.