Produção retrata de maneira dramática, e ao mesmo tempo irônica, a briga familiar pelo controle de um grande conglomerado empresarial.
Grandes corporações são responsáveis por gerar milhares de empregos ao redor do mundo. Além disso, devido a sua complexidade, resultando em uma enorme estrutura burocrática, essas empresas não ficam restritas apenas a esfera comercial, na origem do negócio. As relações com lideranças políticas, concorrentes, empresários e a sociedade, também entram na “conta do negócio”, talvez até de maneira mais importante que a sua atividade fim. Entender todos essas nuances não costuma ser algo atraente, mas quando transformado em produto televisivo bem produzido, acaba presenteando o público com uma história interessante e altamente viciante. O drama da HBO “Succession” se torna o melhor exemplo atual para descrever o mundo corporativo e suas relações nem sempre tão corretas.
A série retrata a história da família Roy, proprietária da Waystar Royco, um bilionário conglomerado com investimentos em diversos setores, passando pela mídia – seu carro chefe – chegando ao ramo de resorts e parques temáticos, bem no estilo Disneyland. O patriarca da família, Logan Roy (Brian Cox), é o CEO (Diretor Executivo) da companhia, porém seu aniversário de 80 anos e problemas de saúde o fazem pensar em sair de cena, abrindo espaço para a nova geração administrar a empresa. Querendo manter os Roys no comando, caberá a um dos quatro filhos de Logan dar cabo à nova missão. Enquanto seu primogênito, Connor Roy (Alan Ruck), não mostra interesse pelos negócios da família – preferindo cuidar de sua fazenda sustentável no Novo México –, cabe a Kendall Roy (Jeremy Strong), segundo filho mais velho e já integrado aos negócios do empreendimento, assumir o papel de favorito para se tornar o todo poderoso na organização da família Roy, inclusive já assumindo as funções de CEO e se comportando como o tal, apenas esperando o anúncio público da escolha do pai.
Além de Connor e Kendall, mais dois irmãos ajudam a trazer complexidade e aumentam as intrigas tão presentes nos dez episódios da primeira temporada da série. Shiv Roy (Sarah Snook) trabalha como consultora política, aparentando não mostrar interesse nos negócios da família, mas consegue encaixar seu noivo Tom (Matthew Macfadyen) dentro da empresa, atuando como informante de Shiv na Waystar. Roman Roy (Kieran Culkin), o filho mais novo, parece não ter ideia do que deseja fazer na vida, mas assume um alto cargo dentro da firma familiar tentando galgar um caminho dentro da corporação ou simplesmente impedir seus irmãos de chegarem antes dele. Além desses, outro personagem em evidência já nas primeiras cenas da série é Greg (Nicholas Braun), sobrinho afastado da família que aparece repentinamente em busca de um espaço na Waystar. Seu jeito desengonçado acaba escondendo um personagem inteligente com chances de ganhar alguma coisa neste jogo da sucessão.
Criado por Jesse Armstrong, a série conta com a produção executiva de Will Ferrell e Adam McKay. Essa dupla, responsável por filmes como “Tudo Por um Furo” e “Ricky Bobby, à Toda Velocidade”, o primeiro como ator principal e o segundo como produtor nos dois filmes citados, se destacam por obras política incorretas, juntando drama, um pouco de comédia de absurdo (área de destaque para Will Ferrell) e muita ironia. McKay, ficou mais famoso recentemente por ter dirigido dois filmes indicados ao Oscar. “Vice” e “A Grande Aposta”, usam de forte conteúdo político e econômico para zombar das lideranças políticas dos Estados Unidos e mostrar como a América chegou à situação atual.
Além de produtor executivo, a escolha de McKay como diretor do primeiro episódio da série, acabou impingindo o modelo para os demais capítulos desta trama. Ênfase aqui para a fotografia e produção pelo uso da técnica zoom drops, responsável por aproximar a câmera dos atores no meio da interpretação, dando mais intensidade para os diálogos mais acalorados. Outra técnica revelada pelos produtores consiste em deixar a câmera gravando sem o conhecimento dos atores, trazendo dessa forma atuações mais espontâneas e realistas, marca registrada de McKay.
Fugindo das questões técnicas, “Succession” é um drama de primeira qualidade da HBO. Intrigas entre uma família bilionária que não vê limite para nada, explorando subordinados de forma cruel e desprovida de empatia, acaba criando um retrato da indiferença dos mais poderosos com o resto da sociedade. O mais importante aqui é conseguir cada vez mais dinheiro, e, principalmente poder. Vemos essa busca na disputa entre pai e filhos para ver quem fica com o controle da empresa. Enquanto Kendall faz de tudo para assumir o poder após seu pai mostrar sinais de demência, o patriarca Logan tenta mostrar ainda ter condições mentais para manter a direção do seu império.
Com ótimas atuações, principalmente para Brian Cox interpretando Logan Roy, bom roteiro e uma produção impecável – destaque para as suntuosas locações utilizadas, ressaltando o poder e o dinheiro de uma poderosa família – “Succession” é um retrato antropológico de como vivem o,1% da população mundial e como esse “seleto” grupo de pessoas faz para conseguir se manter na privilegiada situação em que se encontra. Para isso, não importa os custos financeiros ou morais, tudo vale na disputa pelo poder.