Repetindo a fórmula que deu certo em "Bem-Vindo à Selva", "Jumanji: Próxima Fase" mantém o nível do anterior e insere elementos capazes de emocionar numa aventura assumida e deliciosamente escapista.
É curioso que uma produção tão presente no imaginário popular e guardada com carinho como “Jumanji” tenha ficado tanto tempo sem ganhar novos títulos. Sobretudo com a chance de Joe Johnston ter à sua disposição o saudoso e eterno Robin Williams, de fato, o grande astro daquele espetáculo mágico que, para nós brasileiros, tem o gostinho de Sessão da Tarde. Era evidente então que trazer de volta essas sensações para uma nova geração deveria funcionar, no entanto “Jumanji: Bem-vindo à Selva” atingiu patamares ainda maiores do esperado e tornou-se um dos grandes sucessos na história da Sony Pictures, chegando quase no sonhado bilhão.
O evento em questão não aconteceu por acaso ou passou apenas pelo fator nostalgia, pois o trabalho do diretor americano Jake Kasdan, que havia feito algumas sitcoms e comédias passáveis como “Professora sem Classe” (2011), ultrapassou esses aspectos. O realizador decidiu modernizar por completo aquilo feito no longa de Johnston, porém sem nunca deixar de lado fatores preponderantes que tornaram a obra o que é: como o sentimento de deslumbramento, geralmente acompanhado por uma magia natural, e a total pegada aventuresca. Simbólico até quando o jogo de tabuleiro foi trocado por um vídeo game, mas migrado para um console que é antigo em sua estrutura. Junte isso a um elenco que possui bom timing de comédia e tenha a fórmula perfeita. Essa foi também a deixa para que uma continuação dessa vez não demorasse.
E foi em pouco mais de dois anos que o próprio Jake Kasdan, que agora além de dirigir também assina o roteiro sozinho, lança “Jumanji: Próxima Fase“, obviamente pegando a espinha dorsal do primeiro filme e adicionando alguns elementos que, de certa maneira, fazem a diferença. A trama não é mesmo o forte daqui, desde trazer uma desculpa qualquer para voltar ao mundo de Jumanji até quando então adentrado nesse universo, o objetivo seja impossivelmente mais genérico. O vilão Jurgen, O Brutal vivido por Rory McCann resume bem isso. Não há problema algum nesse caso, já que a história serve apenas como fio de condução para tiradas de humor e cenas de ação que bebem muito das aventuras do professor Jones – o andamento da ponte com os macacos, por exemplo, parece ter saído de uma sequência da saga “Indiana Jones”. Não à toa o diretor e roteirista é filho de Lawrence Kasdan, o roteirista de “Os Caçadores da Arca Perdida“. E nesse sentido, as set pieces realmente são ótimas, destacando-se especialmente a tomada dos avestruzes com ares de “Mad Max“. Uma boa sacada do novo Kasdan.
Contudo, o maior acerto dessa nova empreitada está na inclusão dos personagens de dois maravilhosos atores veteranos, Danny Glover e Danny DeVito. A dupla, que dá vida a Milo e Eddie, respectivamente, trazem camadas inesperadas para a produção. Diria até que o coração desse filme reside na forma e nos temas que ambas as figuras carregam com um rápido background que coloca imediatamente um certo atrito cômico entre eles. Entretanto, isso nunca é levado muito a sério, pois a todo momento reparamos o cuidado que possuem um pelo outro. Além disso, o texto, de forma surpreendente, discute sutilmente a velhice e suas facetas no mundo moderno. Nesse sentido, inseri-los no meio dos jovens num universo física e metaforicamente tão hostil gera momentos, no mínimo, curiosos. Principalmente, é o que acontece em razão do trabalho do grupo de atores, que representam os avatares, formado por Dwayne Johnson, Jack Black, Karen Gillan e principalmente Kevin Hart, que está impagável emulando os trejeitos de Glover.
Por outro lado, não há tanto brilho no núcleo de jovens que dão vida aos personagens selecionáveis, sendo que Alex Wolff, Morgan Turner, Ser’Darius Blain e Madison Iseman continuam sem ter tanto tempo de tela e essa decisão não parece ser gratuita. Ainda que nenhum comprometa, até pela simplicidade de tudo que se apresenta, aguardamos mesmo o momento que eles voltarão ao jogo. Exatamente o oposto das cenas divididas por Glover e DeVito. Assim, tanto no mundo imaginário quanto na vida mundana, Milo e Eddie tiveram desfechos bonitos e acertados. Falando também sobre o epílogo, o filme possui uma cena pós-créditos que fará os fãs mais ardorosos de “Jumanji” vibrarem de alegria.
A bem da verdade e de maneira geral, não há nada que salte aos olhos em “Jumanji: Próxima Fase” se comparado ao anterior. É uma obra que tem cara de sequência e termina chamando outra, ainda que jamais dependa do “capítulo” precedente ou deixe algum gancho para ser resolvido no futuro. De modo que não há muito o que festejar, se não novamente o efeito de reviver uma boa aventura nas telonas. Diferentemente de muita coisa que vem sendo feita, não há pretensões megalomaníacas de construir enormes universos interligados que acabem esquecendo que, antes de tudo, precisam funcionar sozinhas. Devem, primeiro, ser cinema.