Animação usa as quatro temporadas para trazer personagens cativantes, trama inteligente e momentos marcantes no nascimento da Aliança Rebelde, transbordando com o verdadeiro espírito Star Wars de valor à liberdade e luta contra tirania.
“Star Wars Rebels” é uma série animada exibida entre 2014 e 2018 e se passa catorze anos após Palpatine dar seu golpe e criar o Império Galáctico. Comandada, entre outros, por Dave Filoni, supervisor de todos os projetos de animação da LucasFilm, esta se foca num grupo de diversificadas origens que se rebelam e se unem para fazer missões contra o novo regime de governo, e é uma das melhores obras já feitas neste universo tanto amado mundo afora.
A série foi lançada com quatro curtas-metragens que apresentavam seus protagonistas (todos podem ser conferidos no canal oficial de “Star Wars” no YouTube) e logo foi para os canais de televisão da Disney, que transmitiu todas as quatro temporadas até seu ótimo fim.
O grupo principal faz as missões a bordo de sua nave, a Ghost, que não fica devendo em nada à Millennium Falcon, tanto na sensação de importância que tem para os personagens – para quem ela é literalmente um lar -, quanto em como a série consegue criar uma mística ao redor da mesma. Ela é pilotada pela ás do espaço Hera Syndulla (Vanessa Marshall), uma Twi’lek que age como líder, mãe e amiga da trupe, transitando entre tomar decisões militarmente sãs, mas pessoalmente dolorosas, e agir como um porto seguro para todos. É uma personagem cheia de alma e coração, com problemas com o pai e uma bela jornada emocional.
Seu braço direito é Kanan Jarrus (Freddie Prinze Jr.), um Jedi que sobreviveu à Ordem 66, lutando para ser um bom mestre para seu padawan ao mesmo tempo em que duvida muito de si, pois nunca completou seu próprio treinamento. Seu aprendiz é o adolescente Ezra Bridger (Taylor Gray), nativo do planeta Lothal onde sobrevivia sozinho aplicando pequenos golpes e furtos. O garoto embarca numa inspiradora transformação de quem cuida apenas de si em um jovem que inspira outros a lutar contra o Império. Ele e Kanan aprendem um com o outro, não sem percalços e questionamentos que espelham a jornada do menino na de Anakin Skywalker, ambos tendo que lidar com grandes medo e raiva em seus aprendizados.
Há também o lasat Garazeb Orrelios (Steve Blum), o último de sua espécie, carregando a dor de ter sua população dizimada, e sua cultura, destruída. Zeb, como é afetivamente chamado pelos outros, descobre seu papel numa profecia ao longo da série que traz resultados absolutamente emocionantes. O grupo ainda conta com a mandaloriana Sabine Wren (Tiya Sircar), renegada por seu povo por ter tomado uma decisão tida por eles como desgraça para seu clã. Este complicado passado tem grande peso em seu crescimento como personagem e rende ótimas adições ao lore de “Star Wars”. Fechando o time está o droide Chopper (Dave Filoni), que como todo robô protagonista da saga, é cheio de personalidade e atitude, mas sem imitar os clássicos R2-D2 e C-3PO. Chopper é sarcástico, esperto e até meio egoísta.
É admirável ver o grupo de rebeldes se desenvolvendo narrativamente, evoluindo em suas relações e crescendo como personagens. A série dá um banho de roteiro e consegue dar atenção a todos, designando alguns episódios que focam em cada um para que o público possa conhecer suas motivações, frustrações e os fantasmas de seus passados. Capítulos como o dedicado a Chopper, que faz amizade com um droide imperial, e o de Zeb e um arqui-inimigo presos em uma lua precisando colaborar para sobreviver, são dotados de uma carga narrativa fortíssima, dando exemplos de como a série conseguia ser sagaz em sua escrita e entregar um material divertido e emocionalmente denso. São vários arcos narrativos que cativam com personagens carismáticos e cheios de conflitos humanos.
Há várias participações de personagens dos filmes e da série animada anterior, “Clone Wars”, mas nenhuma fica apenas no fan service gratuito. Todas avançam a trama e enriquecem este universo, fornecendo momentos verdadeiramente marcantes.
Uma boa série de figuras heroicas precisa de um grande vilão para desafiá-las, e “Star Wars Rebels” encontra isso no Grão Almirante Thrawn (Lars Mikkelsen). Advindo da trilogia de livros escrita por Timothy Zahn, ele é terrível, implacável e inteligentíssimo. Sempre calmo e sereno, mas transbordando ameaça e perigo, a sensação de que cada vitória dos rebeldes só o ajuda a chegar ao xeque-mate que vem calculando é vívida e mantém um clima de urgência até o último episódio.
A série possui uma animação competente gerada em computador e um estilo visual altamente inspirado nas artes conceituais criadas por Ralph McQuarrie para a trilogia original de George Lucas, o que somado à trilha de Kevin Kiner, que trouxe as notas e temas criados por John Williams, ajudam a obra a transpirar “Star Wars” em toda a sua essência.
Há pequenas falhas, como cenas de ação e tiroteio que beiram o ridículo ao exagerar no fato de que ninguém acerta ninguém a não ser que o roteiro precise disso, criando cenas que se perdem no meio de episódios com boas histórias, mas fracas em sua execução. Felizmente, há pequenos lampejos de brilhantismo e algumas poucas sequências surpreendem e empolgam, incluindo usos criativos da Força.
Se passando cinco anos antes de “Uma Nova Esperança”, acompanhamos um grupo de rebeldes se juntar a outros e, basicamente, formar a Aliança Rebelde. É uma animação que inspira e exalta o que sempre permeou o cerne de todas as histórias de “Star Wars”: a luta por autonomia de espírito, de expressão, de livre-arbítrio. Com histórias inspiradoras de pessoas que se recusam a deixar que uma força tirânica imponha modos de vida e cerceie a liberdade, que vão contra todas as probabilidades de derrota, tortura e morte para batalhar pelo que é justo e não se curvar a nenhuma figura de poder que se vale do medo para governar, “Star Wars Rebels” é um perfeito representante da mensagem atemporal defendida por Luke, Leia, Han, Chewie e outros desde 1977.