Longa baseado nos brinquedos da marca alemã peca ao se resumir a uma propaganda de uma hora e quarenta minutos e não investir numa trama que enalteça a gigantesca capacidade de incentivar a imaginação oferecida pelos brinquedos.
Após o sucesso de “Uma Aventura Lego” em 2014, a estreia de “Playmobil – O Filme” surpreende apenas por ter demorado cinco anos para acontecer. Provavelmente a situação foi resultado dos graves problemas que a produção enfrentou, como a falência de uma das empresas que financiavam o projeto. Infelizmente, parecendo um comercial sem alma, o longa, que teve orçamento de 40 milhões de dólares, não deve render metade disso em bilheteria.
Como esperado, há uma variedade imensa de bonecos e mundos criados com o brinquedo, deixando nítida a sensação de que é uma descarada propaganda. Óbvio que o filme existe para divulgar as linhas de entretenimento da marca, mas seu grande problema é se resumir a isto ao invés de contar uma história envolvente que atinja o aspecto emocional da audiência.
A comparação com os filmes da LEGO é inevitável. A impressão que fica é a de que tentaram imitar a concorrente e lançar algo nos mesmos moldes, porém este ficou claramente aquém. Apesar de produções da empresa dinamarquesa também funcionarem como as propagandas que eram para ser, brincavam com esse fato e, mais importante, incluíam um enredo atraente, piadas mais bem desenvolvidas e personagens mais cativantes. O time de Playmobil, por outro lado, basicamente está lá para mostrar a variedade de criações que a companhia oferece.
Na trama, um garoto e sua irmã adolescente ficam órfãos, fazendo com que uma relação de brincadeiras e imaginação seja substituída por regras impostas pela jovem que precisou amadurecer rapidamente para pagar as contas. Como ela consegue manter a bela e grande casa que herdaram com seu salário de garçonete é inexplicado e inverossímil. A aventura nasce do conflito de que o menino ainda tem espírito aventureiro e imaginativo, mas a irmã perdeu esse lado criança. Logo eles são transportados para a terra mágica de Playmobils, onde toda a linha de brinquedo se encontra, tudo com pitadas de números musicais enfadonhos e carentes de magia. O que podia ser uma relevante alegoria sobre empatia e luto acaba numa mensagem irreal e simplória que não convence e nem emociona ninguém.
Há o que dê certo, como a piada corrente com o agente secreto Rex Dasher e o tema que toca durante o enquadramento em seu rosto sempre que ele faz algo impressionante, porém é pouco dentro do mar de marasmo que a trama oferece. Outro acerto, em geral, é o dono de um food truck, com bom ritmo de falas que divertem. Ambos se juntam à irmã que precisa resgatar o irmão, capturado por forças do Império Romano por um motivo chulo que não rende nada de peso emocional. A animação dos bonecos funciona bem, brincando com a dureza de seu material e com cenários realmente coloridos e cativantes. Entretanto, há coisas simplesmente sem sentido, como a ótima piada sobre as pernas deles não se dobrarem onde seriam os joelhos, apresentada quando os protagonistas são transformados e logo esquecida, tornando-se absurda e ilógica.
“Playmobil – O Filme” falha em transmitir a magia que seus brinquedos conseguem dar aos usuários por focar numa linguagem marketeira demais e não na imaginação que eles promovem. O resultado é uma obra sem alma e boba demais para conquistar alguém com mais de dez anos. São brinquedos inegavelmente incríveis, contudo o longa parece apenas tentar convencer o público desse fato óbvio ao invés de celebrar a capacidade do produto para o fantástico. Para quem tem boas memórias com bonecos e cenários da marca, pode ser imperdível ver na tela grande, mas ao mesmo tempo, há o perigo desses fãs saírem chateados por verem o que tanto amam representado numa obra tediosa e sem graça.