Obra original da Netflix tinha potencial, mas perde muito ao relembrar em cada cena o estilo Michael Bay de fazer cinema: péssima narrativa e ótimas cenas de ação.
Apenas cinco minutos. Este é o tempo necessário para entender todo o resto de “Esquadrão 6“. Original da Netflix, dirigido por Michael Bay e protagonizado por Ryan Reynolds, o longa-metragem de ação tem tudo o que diretor pode proporcionar: explosões, americanos salvando o mundo, violência, muita câmera lenta, tomadas aéreas, piadas machistas…já disse que tem explosões? Com US$ 150 milhões para a produção, este é o segundo filme com o maior orçamento entre os originais da plataforma de streaming – perde apenas para os US$ 175 milhões de “O Irlandês”.
Escrito por Paul Wernick e Rhett Reese, ambos de “Deadpool 2“, a obra conta a história de um bilionário (Ryan Reynolds), que falsifica a própria morte para montar uma equipe de profissionais. A proposta do time é realizar missões independentes do governo americano – como os integrantes são declarados como mortos, fica muito mais fácil fazer o trabalho sujo. Autoproclamados como fantasmas, eles têm liberdade para perseguir e fazer a própria justiça contra terroristas, assassinos, falsários, entre outros.
Para evitar relações pessoais entre o esquadrão, cada membro é chamado por um número: Um (Reynolds), Dois (Mélanie Laurent), Três (Manuel García-Rulfo), Quatro (Ben Hardy), Cinco (Adria Arjona) e Seis (Dave Franco). Cada um com sua especialidade: doutora, praticante de parkour, atirador, entre outros. A primeira missão é acabar com o regime do ditador Rovach Alimov (Lior Raz), um vilão com todas as características de um vilão. Ele quer fechar escolas, destruir hospitais, matar seu próprio povo. Com a proposta de colocar seu irmão gente boa no poder, que deseja a democracia no país, a equipe planeja matar Alimov. Resumindo, a estrutura narrativa é um desastre. Confuso, simples demais em outros momentos e com soluções tão inocentes que fica difícil entender que foram aprovadas por muitas pessoas antes das filmagens.
O histórico do diretor americano não ajuda muito. Com exceção de “13 Horas: Os Soldados Secretos de Benghazi“, a sua filmografia nos últimos anos é baseada em uma overdose de ação somada com uma edição frenética. O trauma que “Transformers” causou já dá seus primeiros indícios em uma perseguição desenfreada no começo do filme, os tais primeiros minutos citados acima. Tudo é tão parecido com a franquia que fica a impressão de que a qualquer momento um carro pode levantar, dar um mortal e se transformar em um robô gigante.
Com classificação indicativa para maiores de 18 anos, o diretor fica à vontade para fazer o que bem entender, abusando da violência explícita. O diretor de fotografia Bojan Bazelli se aproveita das diversas locações, exagerando dos grandes planos abertos para localizar melhor as cenas. Outro abuso é do uso dos flares, um tipo efeito de luz que vai de encontro com as lentes da câmera.
Como se tornou uma marca de Ryan Reynolds nos últimos anos, o alívio cômico se faz presente, muitas vezes quebrando o clima da ação. Cada piada está espalhada aparentemente de forma aleatória, com direito a citações de “O Sexto Sentido” e até versos do rapper Eminem. O único resquício de profundidade no roteiro passa pelo limite em que a equipe pode se preocupar um com o outro, já que a humanidade é vista como um defeito pelo líder da equipe.
Se por um lado o roteiro é ruim, por outro, algumas cenas de ação valem a pena. Os efeitos especiais são bons e uma equipe de cerca de 30 dublês realiza um trabalho excepcional. Ao longo de “Esquadrão 6”, o diretor faz questão de relembrar a cada cena quais são as suas principais assinaturas como cineasta. O final aberto deixa a possibilidade para continuações – resta saber se vai ser um filme de ação ou mais um filme igual de Michael Bay.