Baseado numa história real, o filme consegue ser leve e inspirador com um trabalho magnético de sua atriz principal e de um roteiro redondo.
O diretor, produtor e roteirista Paul Downs Colaizzo acompanhou a jornada de sua amiga, Brittany O’Neill, em busca de melhores condições de saúde. Inspirado por ela, convocou a atriz Jillian Bell para protagonizar o longa contando justamente essa história em “A Maratona de Brittany”.
O fato de ser baseado numa história real eleva o patamar no qual o filme se encontra, transformando o que seria perigosamente piegas em algo realmente cativante e inspirador. Aqui temos a protagonista, interpretada pela ótima Jillian Bell, indo ao médico fazer um check-up e descobrindo que seu estilo de vida está cobrando pesadamente o preço de seu corpo. Com a péssima alimentação e as frequentes bebedeiras, seu fígado está comprometido e ela precisa perder peso com urgência.
O filme ganha pontos por conseguir tratar de uma jornada de emagrecimento sem ser gordofóbico. Pelo contrário, o percurso é psicológico e o foco está nas avaliações de si mesmo as quais a mulher se propõe. Ela se sente fracassada por estar com quase trinta anos e não ter atingido o sucesso que outras pessoas de idade similar já atingiram, entrando numa vida de autossabotagem em que peso é apenas uma consequência. A narrativa ainda consegue discorrer sobre relacionamentos tóxicos e o impacto massacrante que têm nas suas vítimas.
Apesar de tratar de temas sérios, é um filme leve e delicioso de assistir. Jillian Bell é hilária, mas sabe mostrar as camadas de tristeza de sua personagem, que mesmo alcançando os primeiros pequenos sucessos, duvida de si mesma. A atriz comanda um de seus primeiros trabalhos como protagonista sem a menor hesitação e entrega um ser humano que só quer ser feliz, como todos nós.
Ao receber as notícias médicas, Brittany decide ir à academia, porém como ela não tem dinheiro para pagar a mensalidade – fato revelado numa fala do instrutor que é de fazer rolar no chão de tanto rir – começa a correr, colocando pequenas metas à sua frente. Cada diminuta conquista física espelha uma psicológica. A personagem não só passa por um aprendizado para saber se impor quando necessário, como também para desenvolver empatia pelos outros. No fim das contas, trata-se de um bom exercício de autoanálise.
Narrativamente, o roteiro brinca com alguns clichês formulaicos e consegue, assim, contar uma história agradável com uma esperteza que conquista. Com boas falas e boa progressão do arco da protagonista, é fácil se conectar e torcer por ela. Até quando faz alguma besteira, a sensação, inicialmente de reprovação, muda para a de frustração empática, na qual o desejo de que ela melhore substitui organicamente o que seriam apenas tapas na testa.
Mesmo tendo a proposta de uma trama amena e sendo claramente dirigido para manipular o público a se sentir bem, o filme consegue discorrer sobre os tons de cinza que permeiam as pessoas. Todo mundo tem problemas, todo mundo lida com seus próprios fantasmas e luta contra seus próprios obstáculos. Mesmo sereno, é um texto nada maniqueísta que respeita a humanidade de cada um de seus personagens. A cena final chama a atenção, não só pela produção ter sido a primeira a conseguir permissão para filmar uma obra de ficção na maratona de Nova York, como também entrega uma catarse aprazível numa trama que se desenrola bem até seu clímax.
“A Maratona de Brittany” traz uma inspiradora mensagem de uma equação que soma disciplina, humildade e determinação. Ao final, o resultado é uma narrativa divertida, seminal e humana.