Não tendo um roteiro minimamente razoável nem uma direção que organize a narrativa, "Medo Profundo: O Segundo Ataque" é somente uma sucessão de problemas.
Alguns filmes nascem de uma proposta tão ridícula que em momento algum buscam se levar a sério. Se, por um lado isso serve como uma desculpa para que projetos ruins sejam vistos apenas como uma piada, por outro, mostra que a equipe responsável estava consciente dos absurdos do roteiro. Porém, existe outra categoria de produções insensatas. Um grupo que tenta se levar, mesmo que minimamente, a sério. “Medo Profundo: O Segundo Ataque” faz parte dessa segunda ordem.
A história acompanha Mia (Sophie Nélisse), uma jovem que acabou de se mudar com seu pai Grant (John Corbett), a madrasta Jennifer (Nia Long) e a meia-irmã Sasha (Corinne Foxx) para o México. Ao sair para uma atividade turística, Mia e Sasha decidem ir com outras duas amigas fazer um mergulho em uma área remota. As personagens, no entanto, desconhecem que lá é o local onde habita um tubarão-branco que irá caçar as quatro mulheres até os confins do oceano.
De certa forma, nada faz sentido aqui ou, pelo menos, não há qualquer argumento lógico apresentado para desenvolver a trama. A narrativa não precisa nem buscar elementos que façam a história avançar, pois tudo o que é preciso simplesmente aparece ou acontece no momento mais oportuno. É como se estivéssemos diante de uma vitrine de deus ex machina, o que não seria um problema se o diretor optasse por seguir nessa linha.
Porém, Johannes Roberts (“Os Estranhos: Caçada Noturna”) parece disposto a fazer seu filme funcionar apesar de não saber abordá-lo com o sarcasmo que ele pedia. O resultado é uma anarquia narrativa, que não respeita nem o absurdo, nem as regras criadas dentro do próprio universo fílmico. Isso pode ser visto durante o primeiro ataque, quando as garotas descobrem sozinhas que o tubarão não é capaz de enxergar, mas que possui uma audição perfeita. Ao mesmo tempo que nem todo o barulho consegue chamar a atenção do predador, ele aparece na tela sem que haja algum ruído.
E, seguindo uma lógica irracional, o elenco parece não saber exatamente o que está fazendo. Não somente pelas situações ridículas que são obrigados a simular, mas também pela pobreza na atuação, em especial de Sophie Nélisse. A impressão que os atores passam é de que nem eles sabem exatamente o que estão fazendo, o que reforça o roteiro preguiçoso.
Cinematograficamente, Roberts também opta por compensar o texto raso e apressado com truques desonestos. Em diversos momentos, a câmera continua mostrando uma cena, apenas para empurrar a duração da obra para os intermináveis noventa minutos. Apesar de soarem contemplativas, elas pouco têm a oferecer além de uma produção mais cansativa.
No final, sobram poucas coisas interessantes em “Medo Profundo: O Segundo Ataque”, além de um ou outro jump scare divertido ou alguns slow motion cafonas, mas condizentes com a proposta dramática. No final, fica difícil dizer que o problema se limita somente a um roteiro preguiçoso. É uma soma de defeitos que só poderiam ser justificados se o filme se assumisse como uma piada. E, de certa forma, é bom que isso não tenha acontecido e ele seja apenas um filme ruim.