Surpreendentemente se revelando uma continuação oficial do universo da série da década de 1970 e dos filmes dos anos 2000, "As Panteras" tem um roteiro descompassado salvo por um time inspirado de atrizes que brilham em tela.
“As Panteras” é o novo filme da franquia que surpreende ao ser uma sequência das obras anteriores, trazendo a mesma trama base em que o misterioso Charlie coordena uma organização que recruta e treina mulheres para combater o crime. Elas são: Sabina Wilson (Kristen Stewart), Elena Houghlin (Naomi Scott) e Jane Kano (Ella Balinska). Sem nunca revelar seu rosto, existe um “gerente” chamado Bosley para lidar com o time de maneira mais rotineira e proativa. As missões costumam envolver viagens, disfarces e criatividade, algo que permite brincar com seu lado brega, abraçado sem receio, e resultando em ótima diversão.
Escrito e dirigido por Elizabeth Banks, uma atriz cômica que vem se aventurando em trabalhos por trás das câmeras, o longa contém uma organização que cresceu e expandiu suas atividades da Califórnia para o mundo, tendo equipes de Panteras (e, consequentemente, vários Bosleys) pelo mundo. O olhar feminino estabelecido pela diretora atualiza o projeto de maneiras revigorantes, como não sexualizar as personagens. As produções do início do milênio tinham closes em órgãos íntimos e poses insinuantes, mas aqui não há nada disso; apesar de serem agentes, definitivamente, sexy, essa característica vem do charme, carisma, confiança e personalidades, não de corpos atraentes desnecessariamente expostos.
Entretanto, Banks ainda é uma diretora em formação. As cenas de ação e luta raramente empolgam de verdade e carecem de uma montagem mais precisa. O roteiro, o primeiro dela, é inconsistente e incoerente, com arcos narrativos que precisavam de um direcionamento mais claro. Por consequência, o equilíbrio entre ação e comédia fica aquém do potencial a toda hora demostrado, dando a melancólica sensação de que ele está a um passo de ser ótimo. Sem contar que algumas frases de efeito estão mal colocadas e uma cena de dança, por mais legal que possa ser, acontece do mais absoluto nada.
Por essa razão, a dinâmica entre as três protagonistas sofre. Existe um arco sobre duas delas serem opostos e buscarem se aproximar que é confuso e nada coeso em seu desenvolvimento. O que salva é que as atrizes estão incríveis em seus papéis e tiram leite de pedra nesses momentos. Temos a própria Banks como a Bosley do time principal, uma ex-Pantera que sabe mais do que deixa transparecer; Naomi Scott faz a inocente, porém destemida Elena, cientista de uma empresa prestes a lançar um dispositivo gerador de energia capaz de revolucionar o mundo, que ao descobrir seu risco de ser usado como arma, se torna um alvo a ser salvo por Jane e Sabina. Ella Balinska faz uma impressionante estreia. Imponente, não só é dona das melhores cenas de ação como mostra camadas atrás da frieza calculada de sua personagem. Entretanto, o show mesmo é de Kristen Stewart. Encaixando como uma luva num papel com abordagem mais cômica, ela conquista o público com charme, obstinação e assertividade, entregando suas falas com tamanha sagacidade na voz que rouba todos os momentos em que aparece. Sabina tem personalidade bastante ímpar e a atriz a abraça sem cair no caricato.
Há também um impressionante time de atores coadjuvantes, a começar pelos Bosleys Djimon Hounsou e Patrick Stewart – este solto e à vontade mostrando um lado seu que não costuma aparecer em seus papéis. Noah Centineo traz seu carisma de menino acessível e contrasta com Sam Claflin, com pose de galã no papel de CEO da empresa de Elena. Luis Gerardo Méndez se mostra uma adição bem-vinda ao lore da franquia, tanto como ator quanto como personagem, gerando momentos humorísticos que podem render boas cenas em futuras sequências. O elenco se completa com Jonathan Tucker, assassino calado e ameaçador. Nem todos tem um texto bem polido, mas são presenças marcantes no longa.
Apesar das falhas do roteiro, as atrizes brilham e conquistam a plateia. O filme está totalmente ciente da abordagem brega e absurda da franquia, sendo assim um bom sinal. Ao trazer elementos de obras anteriores, “As Panteras” conquista fãs das antigas e expande o universo. O resultado se torna, então, uma celebração de incríveis personagens femininas que, há décadas, empoderam e levam mulheres a se sentirem melhores consigo.