Apresentando a tradicional família para a nova geração, animação mórbida diverte, mas não não sai da zona de conforto.
A história da franquia “A Família Addams” não é das mais atuais. Os personagens criados nos quadrinhos por Charles Addams em 1938 já tiveram suas representações em seriados nos anos 60 e filmes em 1991, 1993 e 1998. Finalmente, em 2019, a animação se tornou o novo meio para contar a trama mórbida. Dirigido por Greg Tiernan e Conrad Vernon (ambos de “Festa da Salsicha”), o filme conta a história de Gomez, Mortícia, Wandinha, Feioso e companhia.
A narrativa se baseia em duas frentes: a primeira envolve Mortícia e Wandinha – após a família finalmente encontrar o seu lar, a jovem nunca teve a oportunidade de sair de casa. Interessada em conhecer o que tem depois do portão da mansão em que mora, ela insiste em conhecer o mundo mesmo com a persistência da sua mãe em mantê-la protegida. A outra base é composta por Gomez e Feioso – a criança precisa realizar um tradicional ritual para ser considerado um membro da família.
Em meio a essa proposta, a família precisa reunir todos os integrantes do clã Addams, incluindo Mãozinha, Vovó Addams, Tio Chico e o Primo It, para conferir o ritual de Feioso, e sofre com a pressão de Margaux Needler, uma famosa apresentadora de televisão que construiu a cidade dos sonhos perto da mansão assombrada. Para não atrapalhar a visão dos futuros moradores, ela propõe uma reforma na moradia.
Muitas das piadas do roteiro passam por propor a família conhecendo o mundo após 13 anos presos dentro de casa com medo da rejeição dos vizinhos. Por mais interessante que seja fazer o contraste entre os velhos e estranhos hábitos da antiga família na sociedade contemporânea, a execução não é tão bem realizada, destacando apenas algumas piadas sobre o uso de celulares. Comparando a família com os outros moradores, a animação destaca um mundo colorido fora da mansão. Dentro do mundo dos Addams, a fotografia aposta em tons escuros, com névoa, com peles pálidas, elementos assustadores e trilhas sonoras apavorantes.
Com homenagens a George A. Romero e outros clássicos do cinema como “O Médico e o Monstro“, “It: A Coisa” e “Indiana Jones“, a dublagem original conta com vozes de Oscar Isaac, Charlize Theron, Chloë Grace Moretz, Finn Wolfhard e Snoop Dogg.
Mesmo tratando ao mesmo tempo sobre questões como bullying, criação de identidade, amadurecimento e união familiar, a animação se torna muito repetitiva. Todo ponto de virada do roteiro depende de uma decepção de um personagem para encontrar sua redenção. Outra repetição óbvia, que faz parte do DNA da franquia, mas que fica cansativa na animação: tudo aquilo que é tradição em uma família comum, é invertido para os Addams. Frases no estilo “que seu dia seja ruim” e “a comida é podre, adorei” se tornam tão comuns que fica previsível.
“A Família Addams” não sai da sua zona de conforto – a mensagem de ser feliz com a sua própria identidade e críticas à padronização, principalmente em filmes infantis, já foi retratada diversas vezes. Com bons e maus momentos, a animação cumpre a sua função: apresentar a história dos anos 30 para a nova geração e reconquistar alguns adultos com saudades de estalar os dedos no ritmo da clássica música da franquia.