Nova série do icônico Chuck Lorre aborda os dramas da terceira idade com humor, sofisticação e a presença de dois deuses do cinema.
Assinada pelo premiado Chuck Lorre, de “The Big Bang Theory”, a série de comédia “O Método Kominsky” estreia a segunda temporada na Netflix. A narrativa corrige alguns pontos fracos do ano anterior e presenteia o público com sequências e participações muito especiais.
Estrelada pelos pesos pesados Michael Douglas (“Homem Formiga”) e Alan Arkin (“Despedida em Grande Estilo”), a história se situa no contexto dos estúdios de cinema e das escolas de atuação de Hollywood. Trata-se, portanto, de mais uma trama de gente cheia de grana, mas infeliz por inúmeros motivos, como Lorre já havia feito em “Two and a Half Men”. A crise existencial dos protagonistas só gera maior empatia por tratar dos dramas da velhice, incluindo a morte que a ronda e as doenças que a acompanham, de uma forma leve, quase estoica e bastante irônica. Nesse sentido, a obra se aproxima de algumas outras produções recentes que têm mirado nessa faixa etária diante de um mundo em que a expectativa de vida tem aumentado, como a também adorável “Gracie & Frankie”.
Aos setenta e quatro anos, Douglas (desde os anos 1970 longe dos seriados) é o Kominsky do título e guia a narrativa como um professor de teatro decadente que vive entre sair com garotas muito mais jovens e remoer a quase fama que tivera décadas atrás. Já Arkin, impressionante aos oitenta e quatro anos, é o casmurro Norman, um produtor de cinema que na primeira temporada enfrenta a perda da esposa para o câncer e os vícios da filha, interpretada por Lisa Edelstein, de “House”.
No novo ano, a série retorna muito melhor ao explorar subjetivamente o drama desses homens e adicionar outros elementos que complexificam a história. Enquanto Norman tem que lidar com o luto e busca dar uma segunda chance à filha viciada, Kominsky tem que enfrentar as demandas hospitalares da idade e começa a sentir os sinais de decaimento do corpo. Juntos, esses dois tiozões esbanjam descontração e afinidade, transmitindo certo cinismo diante de um roteiro que lhes parece ser bastante biográfico.
Porém, o jogo de explorar as afinidades dos protagonistas com o enredo não se limita à questão etária. Um dos pontos altos é a surpreendente aparição da ex-mulher de Kominsky, diante dos atritos do personagem com sua filha que se envolve com um homem da mesma idade que ele. Quando Kathleen Turner aparece em cena, é impossível para quem acompanha a carreira de Douglas não lembrar do maravilhoso embate entre os dois em “A Guerra dos Roses”, filme de Danny DeVito que mostrava um “casal margarina” entrando em colapso quando vão morar juntos, levando consigo, literalmente, a casa abaixo durante a crise conjugal.
Outra escolha genial de elenco é a participação pontual de Haley Joel Osment (“O Sexto Sentido”), como o neto de Norman que está foragido da Cientologia. Alisson Janney (“Eu, Tonya”) também aparece brevemente, como convidada na escola de atuação, dando maior destaque ao processo de interpretação nessa temporada. Entre um punhado de boas cenas que são revividas pelos alunos, destaca-se uma que faz paródia com o maior sucesso de Lorre, encenando uma sequência de “Two and a Half Men”.
Com dois protagonistas coroados, vencedores de Oscar e que não precisam provar mais nada a ninguém, “O Método Kominsky“ parece uma série despretensiosa. Ela não se esforça em ser engraçada, mas tampouco deixa de transmitir certas reflexões importantes sobre a velhice, o amor e a vida. É importante vermos essas representações de outras faixas etárias, bem como as de gênero e etnia, para que o público se sinta representado e contemplado por tramas que lhes toquem diretamente. Mais, são histórias que inspiram, mostrando que há luz no fim do túnel, mesmo depois dos setenta.