Filme com elenco promissor não consegue manter o interesse da audiência por toda a sua duração, falhando ao apresentar uma narrativa sem foco e sem desenvolvimento coerente.
Mais um lançamento de terror da Netflix para o mês do Halloween, “Contato Visceral” é focado totalmente na história de Will, interpretado por Armie Hammer. Após uma briga no bar onde ele trabalha, uma adolescente esquece o celular e Will o leva para casa. Ao tentar avisar para um dos contatos que o telefone foi esquecido, ele acaba lendo mensagens estranhas e vendo fotos e vídeos perturbadores no aparelho, e sua realidade é alterada por conta de eventos cada vez mais bizarros.
Lamentavelmente, o filme acaba se provando como mais uma novidade decepcionante da plataforma. Durante o primeiro ato, a história parece não saber muito bem que rumo vai tomar. Quando a situação começa a piorar para Will, a narrativa se torna bastante repetitiva, com cenas que acabam sempre remetendo às anteriores e que não progridem a história de forma eficiente.
À exceção da cena onde Will descobre as coisas horríveis que existem no telefone, os demais momentos assustadores do filme acontecem somente através de jumpscares, o que se torna frustrante: além de ser uma técnica usada ao extremo como uma forma fácil de arrancar sustos da audiência, aqui alguns momentos destes realmente apresentam imagens perturbadoras, que teriam melhor proveito em uma montagem que desse lugar a elas sem depender tanto desse artifício. Já outros jumpscares são tão desconexos da narrativa que se torna até difícil entender porque eles estão lá.
Um fator esperado quando estamos lidando com um filme de terror onde o elenco é pequeno é que ao menos o protagonista seja bem desenvolvido, para ser possível criar algum tipo de vínculo com a audiência, já que vemos a história toda pelos seus olhos. Mas isso acaba não ocorrendo aqui: Will é um bartender falido que mantém atitudes irresponsáveis e infantis, desistiu da faculdade e se acha superior àqueles ao seu redor que consideram estudos como prioridade, e é infiel à sua namorada, Carrie (Dakota Johnson). Existem personagens que intrinsecamente são pessoas ruins, mas mesmo assim conseguimos criar algum tipo de vínculo com eles por conta de suas atitudes ou personalidade, ou ainda pelo seu crescimento pessoal dentro da história. Will não é um deles.
“Contato Visceral” também apresenta seus personagens tomando atitudes que não fazem sentido. Logo quando percebem algo de errado com o celular, Carrie e Will concordam que devem levar o aparelho para a polícia, mas em seguida se contradizem e Will acaba telefonando para o número que tem enviado mensagens estranhas. Alguns personagens são passivos ao extremo, como Jeffrey (Karl Glusman), namorado de Alicia (Zazie Beetz), uma cliente recorrente do bar com quem Will sempre flerta. Jeffrey é propositalmente escrito como uma pessoa desatenta apenas para que não fique nenhuma dúvida de que Will tem interesse romântico em Alicia, quando esse aspecto da história poderia ter se desenvolvido de forma muito mais sutil.
Esse problema também acontece com o plot central do filme e a mitologia por trás do que está acontecendo com o protagonista e aqueles ao seu redor: ao mesmo tempo que o roteiro quer pegar a audiência pela mão ao se explicar demais, ele falha ao não se aprofundar em nenhuma das questões apresentadas, o que deixa a história mal explicada. E não de um jeito bom, onde teorias podem ser criadas acerca do que aconteceu, mas sim de uma forma aparentando que cenas foram cortadas e estão faltando informações.
A atuações são medianas no geral: Dakota Johnson apresenta a melhor entre elas, principalmente em uma cena séria de confronto entre sua personagem e Will, uma das poucas que prendem de fato a atenção do espectador. Já Armie Hammer não se destaca em seus melhores momentos, sendo caricato e estático demais nos piores. O restante do elenco não tem espaço para brilhar, em grande parte por conta do roteiro de Babak Anvari, que segue a mediocridade de toda a produção. Anvari, também diretor da obra, não apresenta nada de interessante ou artístico através da sua direção. A produção parece ser apenas uma obrigação contratual para todos os envolvidos, sem nenhum tipo de paixão por trás do projeto.
Apesar de conseguir distrair e não ser um filme totalmente entediante, “Contato Visceral”, até o seu desfecho, se apresenta como uma obra desconexa, que não sabe muito bem o seu propósito: é difícil chegar a uma conclusão sobre o que o filme é, de fato. Infelizmente é mais um para a lista de estreias dispensáveis e decepcionantes do streaming este ano.