Com uma história fraca e uma direção inconsistente, o diretor e roteirista Vincenzo Natali contribui para a famigerada lista das piores adaptações de Stephen King no cinema.
Com bons trabalhos na ficção científica, o diretor Vincenzo Natali foi uma escolha interessante para comandar “Campo do Medo“. O conto, escrito por Stephen King e Joe Hill (filho de King), apresenta elementos que variam do terror ao sci-fi, com uma premissa curiosa. Infelizmente, pouco do que o texto propõe é bem aproveitado no filme lançado pela Netflix, que varia da tensão ao tédio em poucas sequências.
Na trama, dois irmãos estão indo para San Diego e no caminho escutam uma criança pedindo ajuda no meio de um matagal. A vegetação alta impede que Becky (Laysla De Oliveira) e Cal (Avery Whitted) saibam de onde vem os gritos, por isso ambos decidem entrar no campo para resgatá-la. Começa então uma luta pela sobrevivência, pois no meio daquele mato, existem alguns mistérios que podem colocar a vida de todos em perigo.
Natali, que também assina o roteiro do longa, parece não saber quais caminhos seguir em seu filme. A abordagem insinua investir na ficção científica, algo que poderia ser utilizado mais aprofundadamente, mas se limita ao superficial. Quando o diretor opta pelo terror, parece mais interessado em reproduzir clichês aleatórios. Já quando é necessário investir em um momento de tensão, a narrativa se mostra pobre, fazendo o clímax não sustentar o suspense.
Essa tentativa de abordar diversas possibilidades faz com que o filme se torne massante, afinal, não permite que a trama evolua. Some-se a isso a falta de carisma do elenco, seja por problemas de atuação, seja por problemas de direção. Becky, por exemplo, passa por situações de violência emocional e sexual, porém, é difícil sentir o impacto que isso causa nela. Em determinado momento, quando Ross (Patrick Wilson) aparece para ajudá-la, a personagem se vê em um dilema, em que deve decidir se aceita confiar em um homem estranho que diz querer ajudá-la. A direção insinua um conflito interno da personagem, mas abandona a ideia na cena seguinte.
Problemas como esse são frequentes ao longo do filme, como a participação de Travis (Harrison Gilbertson), pai do filho de Becky, uma suposta seita à pedra negra (uma espécie de rocha que detém poderes misteriosos), o conflito entre Becky e Cal e a relação entre ambos. Tudo é apresentado, utilizado de maneira superficial e descartado, tornando o roteiro pobre em conteúdo e discussão.
E, se não é possível sentir medo pelos personagens, restaria ao roteiro compensar com um filme criativo. Natali conseguiu contornar a simplicidade da história em “Cubo“, que possui pequenas semelhanças com a trama de “Campo do Medo”, porém aqui faltou ao diretor a mesma habilidade em lidar com um ambiente confuso e claustrofóbico. Isso faz com que seja difícil sentir o incômodo que o matagal passa às pessoas que se veem ali dentro, tornando a história desinteressante antes de chegar à metade.
A Netflix parece estar interessada em adaptar as histórias de Stephen King. O formato menor do streaming funcionou para “Jogo Perigoso” e “1922“, mas em “Campo do Medo” faltou um roteiro que conseguisse desenvolver alguns dos conflitos sugeridos. Os atores também não se mostram dedicados a transmitir empatia e a mão leve na direção de Vincenzo Natali coloca esta como uma das piores adaptações do autor. O que, se parar para pensar, é bem catastrófico.