Filme dá sequência aos eventos do último episódio de "Breaking Bad", dando um final de arco narrativo fabuloso para o personagem de Aaron Paul, que brilha no papel.
Em 2013, a série “Breaking Bad” chegava ao fim após cinco temporadas, sendo aclamada por público e crítica como um trabalho televisivo de qualidade muito superior à média. Seis anos mais tarde, estreia na Netflix um longa que busca fechar o arco narrativo de Jessie Pinkman (Aaron Paul), que escapou do cativeiro em que se encontrava no último episódio da série em um carro chamado El Camino. O nome significa “o caminho”, e não só é emprestado para o título do filme “El Camino: A Breaking Bad Film”, como ilustra bem que a jornada do personagem terá seu fim.
Desde o series finale que se fala de um filme baseado neste universo, e o criador da série, Vince Gilligan, jogou a ideia para Paul em 2017, buscando dar um fechamento mais claro para o arco de Pinkman. O ator topou a empreitada e o projeto foi desenvolvido em segredo, com as filmagens acontecendo no fim de 2018, mas apenas anunciado em fevereiro de 2019, oito meses antes de sua estreia.
Gilligan tomou as rédeas do projeto e não só o produziu como também roteirizou e dirigiu o longa. Com isso, um dos principais objetivos foi alcançado, que foi o de fazer com o que tudo se passasse no mesmo universo da série. Das tomadas em cores quentes do deserto do Novo México a momentos com tons mais frios, cinzentos e azulados que aparecem para ilustrar a melancolia de Pinkman, o filme transpira “Breaking Bad”. Uma decisão arriscada do roteiro que se provou acertada foi a de mesclar o presente com o passado, e isso não foi feito com cenas reaproveitadas da série, mas com os atores da mesma voltando para interpretar seus papéis. As transições de tempo são orgânicas e fazem a narrativa fluir sem percalços, mais méritos de Gilligan como diretor, que mescla esses momentos com louvor. É importante dizer também que essas cenas não são puro fan service, mas ajudam a dar peso ao que aconteceu com Pinkman e ilustram o trauma pelo qual ele está passando.
Trauma nascido do cativeiro pelo qual passou no final da série. Sua última cena lá foi dirigindo o El Camino, gritando em um misto de desespero e alívio, e o filme retoma esse momento logo em seu início, e abre o caminho para Aaron Paul brilhar. Se o ator já era incrível na série, aqui ele mostra que não só soube voltar a seu marcante personagem como conseguiu explorar suas camadas ainda mais a fundo. A experiência como refém o mudou, e os flashbacks dão o impacto narrativo certeiro para mostrar isso, que é realçado pelo trabalho de Paul em mostrar o mesmo homem antes e depois de tão grande baque.
Gilligan se prova capaz de uma direção competente. Ao filmar seu protagonista com ângulos variados, por vezes em reflexos ou através de objetos, transmite bem a tensão sentida pelo personagem, fazendo parecer que está sempre sendo observado, que está correndo o risco de ser pego a todo instante.
Quem nunca viu a série vai gostar do filme, que é bem feito e passa bem a sensação de tensão e o turbilhão de emoções do protagonista, mas é definitivamente uma obra para quem acompanhou “Breaking Bad” do início ao fim. Há elementos ali dotados de carga dramática que só podem ser percebidos por quem conhece aquele universo. Mesmo assim, o roteiro é tão simples, linear e direto que qualquer um consegue acompanhar e se entreter com o longa.
Talvez não seja uma obra essencial ou necessária, já que a série teve um final de qualidade tão alta, mas entregar um final de arco narrativo para Pinkman é um deleite para quem o acompanhou por tantos anos. Seu caminho foi longo e tortuoso, mas narrativamente sublime.