Misturando viagem no tempo com a decadência de um policial obcecado por resolver um crime, filme apresenta história mal conduzida e com falhas em seu roteiro.
A cidade da Filadélfia, localizada no estado norte-americano da Pensilvânia, não é só famosa pela escadaria do Museu de Arte de Filadélfia, eternizada por Sylvester Stallone em “Rocky”. A cidade também possui um rico passado, intrinsecamente ligado com a história dos Estados Unidos, já que no local foram assinadas a Declaração da Independência americana em 1776 e, onze anos depois, a Constituição da nação recém surgida. Pegando gancho na história dos “pais fundadores”, responsáveis por aperfeiçoar a democracia moderna, o filme “Sombra Lunar” investe na temática viagem no tempo para contar uma história confusa e mal executada, com poucos méritos.
Distribuído pela Netflix, o filme começa no ano de 1988 contando a história do policial Thomas Lockhart (Boyd Holbrook), no começo de carreira, lutando para se tornar detetive. Uma série de crimes quase inexplicáveis mudará essa trajetória para sempre. As vítimas, aparentemente pessoas sem nenhuma relação entre si, morrem após uma forte hemorragia dissolver todos os seus órgãos. O único ponto em comum são três picadas presentes no pescoço delas. Enquanto Holt (Michael C. Hall), detetive responsável pelo caso, parece confuso e lento, Thomas mostra agilidade na coleta de provas e na busca de respostas. Surge então a misteriosa figura de uma mulher presente em todas as cenas do crime.
Em uma narrativa desenvolvida de modo apressado, vemos Rya (Cleopatra Coleman) sendo perseguida por Thomas após ser identificada como a autora dos atentados. Durante uma perseguição com cenas de corrida um tanto forçadas, Thomas é surpreendido com informações sobre sua família ditas pela suspeita. Sem entender o que está acontecendo e após um confronto que resulta na morte da mulher, o policial passa a ser atormentado pela mesma narrativa de crimes em intervalos de 9 anos, sempre com o mesmo modus operandi, e o mais estranho, com a mesma personagem morta em 1988 aparecendo novamente. Ligando os pontos, chegamos a mais um filme com a temática de deslocamento no tempo-espaço.
Tentando inovar, “Sombra Lunar” mistura viagem no tempo com a história dos Estados Unidos, mas de leve. Descobrimos mais a frente que Rya está caçando pessoas com alguma relação com um grupo de nacionalistas extremistas – que, como qualquer outro grupo desse tipo, busca trazer de volta a pureza dos Estados Unidos de antigamente, mais branco e conservador. Essa mistura, infelizmente, acaba não sendo bem executada. O diretor Jim Mickle termina contando uma história homogênea com diversos furos em seu roteiro. A começar nas motivações de Rya para voltar no tempo – não sustentáveis e um tanto fracas. Além disso, entendemos como surge a droga responsável por matar as pessoas, mas não como surgiu a tecnologia para viajar no tempo. A figura do professor Naveen Rao (Rudi Dharmalingam), o criador dessas tecnologias, apenas contribui para deixar a história mais complicada e com pouco sentido. A lógica aqui é partir da premissa que o passado ajuda a consolidar uma ideia no futuro, com o jovem Rao, em 1997, conhecendo a história dos crimes, para depois ter a ideia que leva o velho Rao a desenvolver sua arma contra o bando de nacionalistas. Mas quais os motivos para ele enfrentar esse grupo?
Outro ponto negativo diz respeito às atuações de pouco destaque de Boyd Holbrook e Michael C. Hall, com o segundo nem de perto se parecendo com o ótimo ator das temporadas iniciais de “Dexter”. Mesmo sem inovar na forma de filmar e na fotografia, além do fraco roteiro, o filme consegue trazer algumas boas reflexões ao mostrar a decadência de Thomas ao escolher deixar família e amigos de lado para investigar esses crimes durante longos 27 anos. Seu processo de queda é interessante de ser acompanhado, mas no final se revela desnecessário, podendo ter sido evitado já no começo do filme.
“Sombra Lunar” serve como uma interessante distração, um filme mais leve, que apesar de investir na temática das viagens no tempo, não exige muito do seu espectador. Uma boa dica para quem tem tempo livre para “viajar” em uma viagem no tempo um tanto quanto sem sentido.