Documentário mescla imagens e histórias de garotos responsáveis por uma versão caseira de "Indiana Jones e os Caçadores da Arca Perdida" com os mesmos já adultos tentando filmar a única cena que não havia sido possível quando eram crianças.
Durante a década de 80, três amigos pré-adolescentes assistiram, amaram e se inspiraram em “Indiana Jones e os Caçadores da Arca Perdida” para refazer o filme com seus próprios recursos. Eric Zala, Chris Strompolos e Jayson Lamb chamaram colegas e parentes e usaram cenários naturais perto de suas casas, além dos porões das mesmas, para criarem essa homenagem ao longa original e refilmá-lo cena por cena. Trinta anos após a conclusão do projeto, eles se reúnem para filmar a única cena que não conseguiram fazer quando jovens: a que o protagonista luta com um nazista careca e forte em frente a um avião que explode. O documentário “Raiders! The Story of the Greatest Fan Film Ever Made”, disponível na Netflix, acompanha os (agora) adultos entusiastas da obra de Steven Spielberg enquanto tentam completar sua obra em definitivo.
O documentário cresce em entretenimento e relevância quando não foca apenas no making of da nova cena, mas aproveita a reunião do grupo original para conseguir entrevistas sobre as filmagens feitas pelos adolescentes. Ele não só diverte pelas histórias inusitadas muito bem ilustradas com cenas do projeto original, como também explora bem os relacionamentos entre os três e como eles acabaram se distanciando conforme a vida adulta foi exigindo mais dos mesmos, além de brigas e sentimentos mal resolvidos. Outro vital acerto aqui é que seus depoimentos são muito bem montados para ilustrar como as férias de verão passadas em improvisados sets de filmagem foram parte integral do crescimento de cada um e como o projeto é algo pelo qual todos têm imenso carinho. Assim, logo compramos a ideia de que terminar a última cena após todos esses anos tem um peso emocional relevante para os envolvidos, fazendo a ponte entre eles e o público, que se conecta com eles numa camada pessoal que ultrapassa a de “simples fãs de Indiana Jones”.
As entrevistas com as mães são ótimos momentos de humor bem pontuados ao longo do documentário. Hoje, rindo de histórias que causaram absoluto pavor e desespero quando seus filhos tentaram, literalmente, brincar com fogo, elas também fornecem informações sobre o amadurecimento dos filhos que tornam a jornada algo, de fato, precioso e real.
Além disso, o longa consegue contar a história da pequena fama que os garotos tiveram quando seu filme, chamado “Raiders of the Lost Ark: The Adaptation”, ficou pronto e acabou sendo acidentalmente distribuído por pessoas fazendo cópias da fita e passando para amigos, tudo porque não tem como não se divertir vendo crianças recriar (de maneira bastante impressionante, verdade seja dita) cenas de uma das maiores aventuras do cinema, com os personagens trocando de idade a todo momento, o que criava um elemento cômico adorável. Uma dessas fitas acabou chegando às mãos do diretor Eli Roth (“O Mistério do Relógio na Parede”) e de Harry Knowles (criador do site Ain´t It Cool News), e o longa consegue entrevistas com os dois contando como eles fizeram questão de projetá-la num festival, onde a plateia adorou o que viu, mesclando essas cenas com entrevistas em programas televisivos dos próprios garotos. Esse trecho, além de ilustrar o poder de entretenimento proporcionado pela fita, também retrata a pequena fama que os garotos adquiriram na época.
Outro elemento que engrandece esta obra é que ela tem pequenos depoimentos do próprio John Rhys-Davies, que interpretou Sallah no filme de Spielberg. Sua presença exalta a obra dos meninos e diverte horrores quando ele brinca com sua figura para exaltar a perseverança e dedicação dos mesmos.
“Raiders! The Story of the Greatest Fan Film Ever Made” é um documentário que mescla com eficiência as dificuldades dos homens em filmar uma cena perigosa sob chuvas que atrasam o cronograma diariamente com depoimentos e imagens relatando as gravações feitas pelos adolescentes. O contraste das preocupações adultas com a leveza inocente de jovens traz ainda mais peso para as jornadas emocionais de cada um e conquista o espectador. Ao atingir tal êxito, o documentário se transforma numa obra que vai além das tecnicalidades de um making of, mas que trata, em seu cerne, de relacionamentos, amadurecimento e puro amor por um dos filmes mais marcantes da carreira de Steven Spielberg. Amor este que a maioria do público também compartilha.