Em sua quinta produção, estúdio Laika confirma suas qualidades e reconta a história do elo perdido de maneira bem humorada e usando sua estética singular.
Especializado em longa-metragens de animação em stop-motion, o estúdio norte-americano Laika, inaugurado em 2005 e desde então liderado por Travis Knight, dispõe de um número pequeno mas consistente de produções, cujo grande mérito está em sua proposta estética apurada e suas narrativas imaginativas. Aventuras como “Coraline”, “ParaNorman”, “Os Boxtrolls” e o fantástico “Kubo e as Cordas Mágicas” – todos indicados ao Oscar de Melhor Animação – não deixam mentir e comprovam a excelência do trabalho realizado pelo estúdio. Sendo assim, não poderia ser diferente com “Link Perdido”, filme que reforça os atributos que fazem as produções da Laika dignas de prêmios, casando mais uma vez a aparência refinada do stop-motion com uma linguagem narrativa que esbanja criatividade ao abordar de maneira extraordinária uma história contada inúmeras vezes.
Sir Lionel Frost (Hugh Jackman) é um explorador que almeja integrar uma sociedade de famosos exploradores comandada pelo arrogante Lord Piggot-Dunceby (Septhen Fry), mas a falta de provas de suas expedições o impedem de fazer parte do seleto grupo. A sorte parece mudar quando Frost é surpreendente contactado por um solitário elo perdido (Zach Galifianakis) que deseja apenas ser levado para o encontro de sua espécie. A partir da premissa é notável a autoridade da Laika quando o assunto é brincar com as expectativas – ao invés de servir apenas como uma figura passível de encantamento, o Elo Perdido surge como um aspirante a pesquisador, que fala e escreve. Essa inversão de ideias é obra engenhosa não só do estúdio, mas também das mentes criativas que lá trabalham como, por exemplo, Chris Butler.
Mais do que preparado e profundo conhecedor de seu produto, o engenhoso diretor-roteirista – envolvido em filmes como “ParaNorman” e “A Noiva Cadáver” -, demonstra habilidade ao conferir o encantamento necessário ao filme sem que o mesmo deixe de soar crível em seu maravilhoso universo stop-motion, um chamariz por si só, sabendo da tarefa árdua e longeva que é conceber uma produção nesses moldes. O argumento ocasionalmente apresenta mais informações do que o necessário e a montagem sugere uma sessão mais longa do que ela realmente é, no entanto, suas anedotas são de fácil compreensão para o público infantil e com potencial para provocar risadas. Com os adultos não funciona da mesma forma, porém, esses são presenteados com diálogos ágeis e debates que focam em questões como pertencimento, descobrimento, machismo, feminismo e o embate entre culturas.
Embora a montagem problemática – com transições forçadas entre planos -, por vezes impossibilitar o desenvolvimento fluído da narrativa, a animação conta um empenhado elenco de vozes – na dublagem original – que torna a aventura muito mais prazerosa e bem humorada. Evocando um sotaque inglês de época, Hugh Jackman confere ao protagonista a elegância de um nobre e a presunção de quem se considera um explorador bem sucedido sem o ser de verdade, tornando esse personagem uma charmosa e simpática figura. Igualmente pode se dizer do excelente trabalho de voz do ator Zach Galifianakis, que oferece ao seu Mr. Link-Susan certa ingenuidade sem soar piegas ou ignorante, ao passo que extrai um ar de solidão em seus diálogos. Zoe Saldana e Stephen Fry cumprem seus papéis com burocracia enquanto Timothy Olyphant surpreende no tom de voz distinto para o matador Willard Stenk.
Trazendo experiências adquiridas em trabalhos como “O Fantástico Sr. Raposo” e “Kubo e as Cordas Mágicas”, o design de produção impecável de Nelson Lowry aliado a direção de fotografia estonteante de Chris Peterson (“O Estranho Mundo de Jack”, primeiro sucesso em stop-motion) constrói uma ambientação magnífica, cuja a variedade na utilização de paletas proporcionam ao filme nuances e uma fotografia belíssima que por vezes faz o público esquecer daquele mundo fantasioso e realmente embarcar em uma viagem à Londres, com escala nos Himalaia até chegar ao paraíso terrestre oculto – idealizado pelo escritor inglês James Hilton -, denominado Shangri-la. Com simplicidade, eficiência, cores e uma narrativa prazerosa para toda a família, “Link Perdido” representa mais conquista a integrar o hall de animações da Laika, que vem como um alento em meio a tantos desenhos corriqueiros e sem personalidade.