Cinema com Rapadura

OPINIÃO   terça-feira, 27 de agosto de 2019

O Clube dos Meninos Milionários (2018): jovens, gananciosos e ousados

Com um elenco pesadíssimo, mas com um roteiro pouco trabalhado, "O Clube dos Meninos Milionários" ainda pode agradar quem gosta das histórias de lobos dos anos 80.

Após quinze anos sem aparecer nas telonas, quando dirigiu o filme “Wonderland“, James Cox retorna escrevendo e dirigindo “O Clube dos Meninos Bilionários”. Uma minissérie de mesmo título já havia sido lançada em 1987, pois essa história é baseada em um escândalo envolvendo vários grandes empresários de Los Angeles nos anos 80 especializados em enriquecimento rápido. O filme foi filmado em 2015, com um elenco pesadíssimo, mas, após as acusações dirigidas ao Kevin Spacey, se resumiu em um lançamento discreto por meio de plataformas digitais que depois tentou migrar para os cinemas.

Joe Hunt (Ansel Elgort) é um jovem de classe média que viveu sempre uma vida pacata: um apartamento barato, abandonado pela mãe, morando apenas com o pai e trabalhando em um ofício comum que pagava mal. Porém, muito esforçado, sempre conseguiu bolsas para estudar nas melhores escolas da cidade. Foi assim que conheceu seu amigo Dean Karny (Taron Egerton), que até tentou lhe integrar aos demais garotos da turma, mas sem muito sucesso. Anos depois, Hunt e Karny se reencontram. Joe com sua vida ainda mediana enquanto Dean andava fazendo seus pulos e, ao saber das ideias lucrativas de seu antigo amigo, tenta integrá-lo novamente no grupo, mesmo com uma inicial resistência dessa vez abraçam a ideia louca do jovem investidor.

A imersão no ambiente e clima dos anos 80 é muito bem representada. Infelizmente muitas das referências são tão pequenas que, se o espectador não prestar bem atenção, passam despercebidas. Fora o fato de que várias delas podem nem ser captadas por outra geração. Em contraponto a esta fidelidade estética e climática, vemos a distorção da realidade dos fatos. O filme, a princípio, é para ser baseado numa história real. Nela, Joe Hunt foi condenado à prisão por crimes financeiros e até por ordenar assassinatos. Os anos 80 eram uma época louca nos investimentos, não existiam mocinhos nesse meio. No entanto, neste longa Cox vende Hunt como um benfeitor revoltado com a vida que lhe foi dada. E isso influencia na sua experiência com a obra e no olhar para a história.

A ideia central do roteiro até que é boa, mas a falta de uma nova visão ou crítica para a loucura dos investidores e a ousadia dos golpistas dos 80 (visto que gerações posteriores as de 80 fizeram também fizeram bagunça no mercado e em grande escala) torna a trama monótona e cansativa se você já tem a ideia (através de livros ou séries) de como era essa época. Isso é visto na demora para o filme engrenar. O espectador passa muito tempo esperando o ápice chegar para ver algo clichê e já imaginável pela construção do longa. O andamento da obra é outro a se colocar em pauta aqui. Jovens com penteados bonitos, garotas elegantes, roupas de grife, carros luxuosos, cocaína sendo cheirada no banheiro e bebidas caras é até divertido de ver em uma cena ou outra. O problema que encontramos em “O Clube dos Meninos Bilionários” é isso ser 50% do que o filme nos mostra. A trama aqui emerge de forma rasa e superficial na vida do protagonista Joe Hunt, seu romance com Sydney Evans (Emma Roberts) é tão rasteiro que não consegue se sustentar em tela por muito tempo. Personagens que mal são mencionados durante o filme de uma hora para outra se tornam a chave para o ápice e depois somem novamente.

A impressão que fica é que o filme foi feito em um tipo de piloto automático. E embora muito se critique os personagens e seus arcos, não podemos culpar os atores, como Emma que foi subutilizada. O elenco parece se entregar muito aos papeis, sendo visível o empenho para fazer o longa funcionar. Aqui, o cast é maior que a obra. Falando em elenco, Kevin Spacey, o principal responsável pelo atraso do lançamento do filme por se envolver em escândalos, não aparece tanto no filme, mas tem sua devida importância para a história e entrega bem isso. As comparações com “O Lobo de Wall Street” são inevitáveis e acabam sendo uma espécie de contrapeso para a avaliação do público. No geral, para quem gosta do gênero o filme vai ser razoável. Quem quer entender um pouco mais sobre os anos 80 e suas loucuras por dinheiro também vai sair satisfeito, mas quem procura um filme bem amarrado e desenvolvido, muito provavelmente não se agradará.

André Bastos
@_drebastos

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