Documentário original da Netflix acompanha a vida de Clarence Avant, empresário que atuou nos bastidores para lançar inúmeras lendas da música, do cinema, da televisão e da política.
“Diga ‘Clarence Avant’ e as portas se abrem”. “Ele é a celebridade das celebridades”. “Ele conhecia todo mundo”. Clarence Avant, executivo, empresário e produtor americano, é vendido praticamente como uma divindade ao longo de “O Pai da Black Music“, novo documentário original da Netflix. Com direção de Reginald Hudlin (“Marshall: Igualdade e Justiça”), o filme é montado com uma estrutura de linha do tempo que se divide entre depoimentos e imagens históricas de acervo. Tudo é muito bem amarrado com um formato de organogramas, que serve para apresentar como Clarence utilizava diversas fontes para chegar a uma pessoa e conseguir o que queria.
Enquanto conta a história do empresário, a obra mostra como acontecimentos importantes influenciaram ou foram influenciados por seu protagonista, que nunca quis ser o centro das atenções. A lista de entrevistados é gigante: inclui Barack Obama, Jamie Foxx, Lionel Richie, Snoop Dogg, Bill Clinton, entre muitos outros. Com uma dinâmica diferente dos outros, o produtor musical Quincy Jones conversa frente a frente com Clarence, revelando os muitos anos de amizade e respeito.
O documentário reserva um tempo para ressaltar como Avant superou barreiras mesmo nascendo na Carolina do Norte em pleno período de segregação racial no Sul dos Estados Unidos. Mesmo estudando apenas um ano do Ensino Médio, o empresário participou de mundos para os quais não estava preparado. De acordo com Obama, seu mérito tem base em ser um cara legal com a malandragem das ruas.
Ser empresário nunca foi sua prioridade, as coisas foram acontecendo. Passou a comandar a carreira de artistas como Little Willie John, Jimmy Smith, Lalo Shifrin, Jim Brown e Bill Withers. Sua influência permeia no fim da carreira de Muhammad Ali, na primeira cena romântica de um ator negro em Hollywood, na importância do programa “Soul Train” para a cultura americana nos anos 70 e no crescimento de Obama na política. Só para ter uma noção de como Clarence é uma figura respeitada, ele foi o responsável por resolver uma briga judicial relacionada ao filme “E.T.: O Extraterrestre“, conversando com advogados da Universal, CBS, Steven Spielberg e Michael Jackson, todos na mesma mesa de reunião.
O diretor libera aos poucos os atalhos e como os nós foram desatados pelo homem que ajudou pessoas na indústria da música, no cinema, na televisão e na política. Sua esposa Jackie e seus filhos Nicole e Alexander também adicionam um tempero especial na história: sobre como era viver com celebridades como Bobby Brown, Muhammad Ali e Whitney Houston visitando a sua casa.
“O Pai da Black Music” reúne dezenas de pessoas para apresentar uma gota d’água no oceano que o empresário representou para a cultura negra americana. “A vida é feita de números” – a frase repetida diversas vezes pelo protagonista representa bem sua personalidade. Antes dos influenciadores dominarem as redes sociais, Clarence Avant já usava o seu poder no mercado para trazer um legado de justiça para a cultura negra. A admiração que conquistou só demonstra como a igualdade é o melhor remédio para qualquer ideologia torta.