Documentário sobre a produção da última temporada da série foca no trabalho por trás das câmeras, ilustrando o trabalho hercúleo e cheio de sacrifícios que é necessário para uma obra dessa proporção sair do papel.
Os fãs de “Game of Thrones” ficaram órfãos após o fim da última temporada, quando se encerraram as noites dominicais carregadas de expectativas, seguidas por dias de comentários e teorias que inflamaram as redes sociais por tantos anos. Para ainda ter um último gostinho das Crônicas de Gelo e Fogo, a HBO lançou o documentário “Game of Thrones: A Última Vigília”, sobre a produção da oitava e decisiva temporada de uma das mais importantes séries da história.
A obra no estilo making of não investe nas grandes estrelas ou nos showrunners David Benioff e D.B. Weiss, mas sim nos figurantes, maquiadores, dublês, assistentes de produção e muitos outros que trabalharam arduamente por trás das câmeras para fazer a série acontecer.
Ao decidir por focar nesse aspecto, a diretora Jeanie Finlay ilustra que, para ter um produto épico de alta qualidade visual, é necessário trabalho duro, incessante, estressante, frustrante e tedioso. O que não quer dizer que aqueles envolvidos não gostem do que fazem. A primeira tomada do calendário da produtora Bernadette Caulfield já produz calafrios no espectador, e o documentário ganha pontos por não ter medo de ter essas pessoas vitais à produção admitindo que há momentos em que queriam que tudo acabasse logo para poderem, enfim, descansar. A jornada de muitos deles era de 18 horas por dia, não havendo psicológico que aguente firme por muito tempo, ainda mais levando em consideração que a produção dessa temporada teve onze semanas de filmagens noturnas.
Os cenários construídos são incríveis e imensos, e Porto Real merece destaque. Uma massiva construção que demorou meses para ficar pronta, com trabalhadores tendo que enfrentar condições climáticas que nem sempre ajudavam, ao mesmo tempo em que se dedicavam aos mínimos detalhes para que a cidade parecesse viva e real. Em contrapartida, há bastidores de cenas com fundo verde que, se são mais simples, também possuem igual perfeccionismo de seus artistas. Depoimentos como o do responsável pela neve (basicamente água e papel) ilustram a dedicação da produção e, juntamente com a escala gigantesca de tudo que envolveu produzir essa temporada, transmite bem o trabalho hercúleo que foi fazê-la sair da prancheta.
É uma pena que não havia tempo hábil para explorar cada aspecto da produção com detalhe, mas a diretora acerta em apostar em algumas pessoas para aparecerem ao longo da obra de forma mais fixa, o que acaba servindo de norte para a narrativa e facilita que o espectador acompanhe o fluxo do filme sem deixar a peteca cair. Bons exemplos são o figurante Andrew McClay e o ex-dublê e coreógrafo de lutas Vladimir Furdik.
McClay, residente local, participou de sua quinta temporada e demonstra tal paixão pelo projeto que espelha qualquer fã que gostaria de ter estado lá. Seu entusiasmo é tão genuíno que cativa facilmente e leva um sorriso ao rosto quando, em seu última dia de filmagens, consegue uma cena com Kit Harington (Jon Snow).
Já Furdik revela que foi dublê por 33 anos e hoje coreografa lutas e o vemos comandando o ensaio da batalha entre os irmãos Clegane no penúltimo episódio, mas sua estrela brilha de verdade quando é revelado, por meio de uma montagem bastante esperta, que ele é o Rei da Noite. Ao contar que sempre ficou à sombra de atores e que agora podia se juntar a eles, é outro que causa alegria no espectador quando é reconhecido por fãs da série, culminando numa cena em que a diretora acerta em cheio em mostrar a multidão imitando o gesto de mãos do antagonista para ressuscitar os mortos.
Quanto às estrelas da série em si, pouco aparecem, pois não eram o foco do documentário. Quem mais dão as caras são Kit Harington e Emilia Clarke, e ambos rendem uma das melhores cenas do documentário que é a leitura geral do roteiro onde os atores descobrem o fim de seus personagens. Há também bastidores de suas últimas cenas e uma despedida em lágrimas de um Harington emocionado. Prato cheio para os fãs.
Harington também conta que, juntamente com outros atores, viajou para a Espanha para apenas estar lá. Eles não iriam participar de nenhuma filmagem, mas precisavam estar lá para enganar jornalistas e paparazzi e desviar as especulações sobre a trama do que realmente iria acontecer. Quando se tem uma série com hype do nível desta, esta é uma preocupação genuína dos produtores, tendo até colocado alguns desses atores em figurinos completos apenas para fins de distração.
“A Última Vigília” investe nos heróis sem nome que trabalham por trás das câmeras sem a pompa e a circunstância que a qualidade de seu trabalho merece. Da maquiadora que ficou semanas sem ver a filha pequena à cabeleireira que lidou com um misto de emoções ao montar a peruca de Daenerys em Emilia Clarke pela última vez, a obra não só ilustra as longas horas de esforço coletivo e individual, como também engrandece todos que fizeram uma das séries mais marcantes da história vir à vida.