Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 23 de março de 2019

Durante a Tormenta (Netflix, 2018): montando um quebra-cabeças

Diretor espanhol Oriol Paulo mistura o suspense com viagem no tempo com um roteiro cheio de reviravoltas.

Em “Durante a Tormenta”, o diretor espanhol Oriol Paulo divide a função de roteirista com Lara Sendin (“O Corpo”). Assim como em seu último longa-metragem, “Um Contratempo” (2016), as reviravoltas do texto são os guias das suas histórias. Sua nova obra mistura ficção científica com toques de viagens no tempo e suspense. Lançado no final de 2018 e distribuído pela Netflix, o filme se divide em duas épocas diferentes: uma se passa em 1989, no mesmo dia da queda do Muro de Berlim, e a outra 25 anos depois. A única ligação entre as períodos é a chegada de uma tempestade que deve durar 72 horas. A protagonista é Vera Roy (Adriana Ugarte, de “A Outra Mulher”), uma enfermeira que vive com seu marido David Ortiz (Alvaro Morte, da série “La Casa de Papel”) e sua filha Gloria (a estreante Luna Fulgencio).

Ao encontrar algumas fitas velhas na sua nova casa, Vera percebe que são vídeos feitos por Nico (Julio Bohigas, de “Los Futbolísimos”), um garoto que morava com sua mãe na mesma residência há muitos anos. Ao pesquisar na internet sobre o jovem, ela descobre que ele morreu atropelado por um carro. Por conta de um defeito no espaço-tempo, os dois conseguem se ver por meio da televisão e da gravadora utilizada para reproduzir as fitas. Assim, ela aproveita para contar para Nico sobre o acidente, evitando assim a sua morte. Entretanto, ao acordar no dia seguinte, Vera se encontra em uma nova realidade em que ela finalmente se tornou uma neurocirurgiã, seu marido está casado com outra pessoa e sua filha nunca nasceu.

Ninguém realmente viaja no tempo, a proposta é sobre como as conversas em duas épocas diferentes podem afetar o futuro e criar linhas temporais. Oriol e Sendin precisam se virar para manter o interesse do espectador. Para isso, a trama segue como uma montanha russa, com diversos plot twists ao longo do roteiro. O espectador passa a aprender sobre o seu novo futuro junto com a protagonista. Como sua verdadeira realidade nunca aconteceu nesta linha temporal, ela passa o tempo tentando convencer as pessoas a acreditarem nela para conseguir retornar à sua vida normal.

Ao mesmo tempo que a história principal se desenrola, diversas subtramas acontecem, como um assassinato na frente da casa de Nico, a investigação do inspetor Leyra (Chino Darin, de “Uma Noite de 12 Anos”), e a infidelidade de David. Com duas horas de duração, “Durante a Tormenta” encontra um ritmo lento, mas sem deixar escapar um mínimo detalhe sobre cada personagem.

O roteiro ganha ainda mais com a boa montagem de Jaume Martí, que também trabalhou com o diretor espanhol em “Um Contratempo”. O roteiro é tão fechado que Oriol se permite apontar pistas falsas por meio de personagens multifacetados. Trata-se daquele tipo de filme que o espectador não pode tirar o olho da tela para não se perder na história.

É divertido ver como o espanhol trabalha cada personagem e vai virando o jogo ao longo do filme, sem deixar pontas soltas. Oriol Paulo não tem medo de arriscar e tem total controle das suas obras. E em “Durante a Tormenta” não é diferente.

Fábio Rossini
@FabioRossinii

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