Novo longa original da Netflix discute sobre lealdade e ganância em meio a ótimas cenas de ação.
Não se engane pelo título – em “Operação Fronteira”, a divisa entre Paraguai, Brasil e Argentina é apenas um pretexto para o novo longa de ação original da Netflix. Tirando algumas placas direcionando para o nosso país e a oportunidade de ver Ben Affleck com uma lata de Brahma, não existem outras citações. Dirigido e roteirizado por J.C. Chandor (“O Ano Mais Violento”), a obra é produzida por Kathryn Bigelow e Mark Boal, responsáveis por “A Hora Mais Escura” e “Guerra ao Terror”.
O filme conta a história de um grupo de cinco ex-militares que tentam se adaptar novamente à vida após deixarem as operações em campo de batalha. Depois de tanto correr riscos pelos Estados Unidos, os mesmos não estão satisfeitos com o que recebem atualmente. Após conviverem com tanta violência, cada um se virou de um jeito para seguir em frente: William “Ironhead” Miller (Charlie Hunnam, de “Rei Arthur: A Lenda da Espada”) vive realizando palestras em pequenas cidades; seu irmão, Ben Miller (Garrett Hedlund, de “Mudbound: Lágrimas Sobre o Mississippi”) virou um lutador de MMA; Tom “Redfly” Davis (Ben Affleck, de “Liga da Justiça”), fracassa diariamente no trabalho como corretor de imóveis.
Completam o grupo Francisco “Catfish” Morales (Pedro Pascal, de “Se a Rua Beale Falasse”), que perdeu sua licença de piloto após se envolver com drogas; e Santiago “Pope” Garcia (Oscar Isaac, de “No Portal da Eternidade”), que continuou atuando contra o narcotráfico na América do Sul. Pope é o responsável por recrutar o grupo novamente com uma proposta para matar o traficante Gabriel Martins Lorea (Reynaldo Gallegos, da série “S.W.A.T.”) e roubar seus US$ 75 milhões escondidos em uma casa protegida no meio da selva.
O roteiro do diretor, escrito em conjunto com Mark Boal, é corajoso por seguir um caminho fora do padrão, focando não só na ação, mas também na ética de cada personagem. O crime não é o principal mote da história; a dificuldade central é pensar em como transportar tanto dinheiro até uma área segura. O ritmo é mais lento do que os filmes de ação tradicionais, como “Os Mercenários”, que segue a mesma estrutura de formação de equipe e ação conjunta. Entre os personagens, apenas o quinteto é bem desenvolvido – tanto Lorea quanto Yovanna (Adria Arjona, de “Círculo de Fogo: A Revolta”), uma informante de Pope, têm pouquíssimo tempo de tela. O traficante é citado durante o filme inteiro como o causador de toda a crise na Tríplice Fronteira, mas sua presença vira apenas uma ameaça distante.
A dinâmica do grupo é natural pelos anos de convivência e o elenco consegue transparecer essa amizade com eficiência. Os personagens não buscam a violência, mas por meio dela criaram um propósito, afinal, atuar no campo de batalha é o principal talento destes homens. A moral dos atos de cada um é colocada em prova cena após cena, carregada apenas pela lealdade entre os integrantes. A ganância é outro tema invisível que permeia algumas questões ao longo da obra. Quanto vale a vida de uma pessoa? Vale a pena correr risco de vida em troca de segurança financeira? O maior interesse de Pope era encerrar a guerra do tráfico ou lucrar com isso?
Procurando responder todos estes temas, a história perde um pouco por ficar no meio do caminho entre a ação e a discussão ética. Entretanto, a coragem do diretor e um plot twist bem executado fazem toda a jornada de “Operação Fronteira” valer a pena.