Filme original da Netflix se perde com direção burocrática e roteiro previsível. Destaque positivo fica por conta da boa atuação de Alfre Woodard.
“Juanita” é um filme original da Netflix, adaptado do livro “Dancing on the Edge of the Roof”, de Sheila Williams, que conta a história da personagem-título, Juanita Lewiston (Alfre Woodard, da série “Luke Cage”), uma mulher que não está satisfeita com os rumos que sua vida tomou. Os primeiros segundos da obra mostram em uma breve animação como foi a vida da sua protagonista – casou cedo, teve três filhos, se separou e cuidou da família sozinha. Em seguida, a protagonista quebra a quarta parede e apresenta sua vida no presente.
Atualmente, ela segue cuidando dos filhos e de uma neta, enquanto trabalha muito e não ganha o suficiente como enfermeira em um centro médico. Entretanto, já adultos, os filhos não ajudam: Bertie (Jordan Nia Elizabeth, da série “Bosch”) ficou grávida e largou a escola, Randy (Marcus Henderson, de “Sobrenatural: A Última Chave”) está preso, e Rashanw (Acorye’ White, da série “Sons of Thunder”) está seguindo o mesmo caminho do irmão mais velho. Assim, Juanita decide fazer uma viagem até Montana para reencontrar o caminho da felicidade e deixar sua família se virar sem a sua proteção.
Chegando em um dos seus destinos, ela se instala por um tempo em uma pequena cidade e consegue um emprego no restaurante do chef Jeff Gardiner (Adam Beach, de “Esquadrão Suicida”), um nativo americano que ainda não se recuperou das perdas da Operação Tempestade no Deserto, uma ofensiva aérea realizada em 1991 e liderada pelos Estados Unidos contra o Iraque. Logo de cara, é fácil perceber que vai rolar um clima entre os dois. O roteiro do estreante Roderick M. Spencer não sabe muito bem onde quer chegar, assim como a sua protagonista. No início, a obra é apresentada como uma mistura de comédia com um drama familiar. Quando Juanita parte para a viagem, o filme se transforma em um road movie e termina como um romance.
O humor vem dos devaneios da enfermeira ao se imaginar com o ator Blair Underwood (da série “Agentes da S.H.I.E.L.D.”) que interpreta ele mesmo como um sedutor parceiro fictício. A proposta, que serve como uma fuga da rotina é parecida com a do protagonista de “A Vida Secreta de Walter Mitty” (2013), porém Juanita é tão desanimada consigo mesma que nem mesmo em seus sonhos as coisas dão certo. Dirigido por Clark Johnson, que tem carreira na direção de episódios de séries como “The Purge”, “Luke Cake” e “Orange Is the New Black”, o longa se perde também em sua própria estrutura. A quebra da quarta parede, que parecia promissora no primeiro ato, é abandonada ao longo do filme. Os devaneios, até então divertidos no início, também somem. A impressão é de que tirando a protagonista, os outros personagens não importam.
Apesar da obra contar a história de uma mulher que busca sua felicidade, Woodard não deixa de lado o olhar triste, transmitindo a dificuldade de ser feliz enquanto seus filhos ainda estão buscando o caminho correto na vida. A atriz carrega o filme nas costas mesmo com diálogos fracos e algumas atuações constrangedoras do elenco. “Juanita” tem seus méritos pela representatividade ao bancar uma história de um casal formado por uma protagonista negra e um nativo americano. Entretanto, nessa viagem, o roteiro e a direção levam para um caminho errado e ficam tão confusos quanto um GPS sem sinal de internet no meio da estrada.