Trazendo seu primeiro filme com uma heroína no controle, a Marvel acerta quando aposta no bom humor e no empoderamento feminino para sua obra.
Não dá pra falar de “Capitã Marvel” sem citar “Mulher-Maravilha”. Seja pelo pioneirismo da DC em produzir um longa focado em uma heroína feminina, seja pela influência positiva que o longa trouxe para a indústria. Naquele momento, ou a partir dele, tornou-se impossível afirmar que filmes de ação encabeçados por mulheres são fracassos de bilheteria. Porém, a DC tinha Gal Gadot, a mulher com carisma e sorriso estratosféricos, teria então a oscarizada Brie Larson a mesma “força”?
Antes dos pingos, vamos aos “is”. “Capitã Marvel” conta a história de uma cidadã Kree chamada Vers, que possui lapsos de memórias de uma vida desconhecida, poderes incontroláveis e que está em treinamento para se tornar uma das defensoras de seu povo. Em uma de suas missões, ela é raptada pelos asquerosos Skrulls, que “liberam” acidentalmente sua mente e ela parte para o nosso planeta em busca de respostas.
Com um primeiro ato totalmente espacial e por vezes explicativo até demais, o longa só engrena de verdade quando chega à Terra. Não que não seja interessante todo o background alienígena da história, mas muito do charme do filme vêm de dois fatores básicos: a ambientação nos anos 1990 e a persona gigantesca de Samuel L. Jackson.
Do primeiro quesito praticamente nada foi esquecido, desde aparelhos tecnológicos hoje totalmente obsoletos, como os malfadados pagers e orelhões, quanto às roupas icônicas da época – espere pra ver o look grunge de Danvers! – e também a trilha sonora que abrange um boa parte desta época inesquecível. Quanto à Jackson, seu personagem é o motor e escada para a heroína brilhar.
Aqui vêm um ponto importante sobre “Capitã Marvel”: goste você ou não, ele é um filme importante e empoderador. É um longa em que a força e o caminho longo e tortuoso por onde as mulheres precisam caminhar para tornarem-se donas de suas próprias vidas e corpos são muito bem explorados, tornando a obra tão significativa quanto foi “Pantera Negra” para a sua causa. Toda a trama é construída a partir da posição feminina perante o mundo e pelas limitações que a sociedade impõem a elas, seja para almejar uma carreira militar, seja para mostrar a sua enorme força interior.
Voltando à Jackson e também à estrela Brie Larson, a dupla funciona bem. Se Brie não parece ser muito familiarizada com o humor, Jackson a “cobre” com maestria. Seu Nick Fury está bem solto e remete muito aos policiais negros falastrões dos filmes dos anos 80 e 90, como Roger Murtaugh (Danny Glover) de “Máquina Mortífera” e Axel Foley (Eddie Murphy) de “Um Tira da Pesada”. E se o próprio Jackson já não consegue fazer as mais incríveis cenas de ação – o ator completou 69 anos em dezembro de 2018 -, Brie está lá para quebrar caras e bundas de alienígenas e guardas enxeridos.
Três fatores incomodam um pouco em “Capitã Marvel”. Uma delas é o combo de roteiro + direção rasos e previsíveis. Mesmo que uma grande reviravolta apareça lá pelo fim do segundo ato, o longa possui diversas situações vazias e poucos momentos realmente criativos para render uma empolgação real do público. Outro problema é o já malfadado e malfalado CGI da Marvel. A impressão é a de que eles empregaram os melhores técnicos para “Vingadores: Guerra Infinita” e deixaram a “sobra” para os filmes do Pantera e da Capitã. As cenas que contam com a heroína em sua máscara característica são muito mal renderizadas e é preciso fazer um esforço hercúleo para enxergar Larson ali.
Para finalizar, é preciso dizer que, infelizmente, Brie Larson não é uma Capitã incrível. Apesar de ir bem na maioria das cenas em que contracena com Jackson e de ser uma atriz muito boa, ela não parece confortável no papel. Talvez por ser uma profissional mais acostumada à dramas e filmes menos movimentados, ela até se esforça, mas não consegue passar a imagem poderosa que a personagem necessita. Suas variações do humor para a ação e vice-versa, algo que Scarlett Johansson ou a já citada Gal Gadot, fazem com primazia, não funcionam tão bem aqui e acabam tirando um pouco da força e carisma da personagem.
Com duas cenas pós créditos (uma delas imperdível!), um gato absolutamente hilário e descontrolado, um Samuel L. Jackson impagável, personagens e objetos importantes do Universo Marvel voltando para a saga, nostalgia noventista na veia e uma mulher superpoderosa tomando o controle da “p*rra toda”, “Capitã Marvel”, mesmo com seus pequenos erros, torna-se tão imperdível quanto os melhores filmes de origem do estúdio e de outros super-heróis do cinema.