Novo drama original da Netflix, “O Menino Que Descobriu o Vento” marca a excelente estreia de Chiwetel Ejiofor na direção de longas-metragens.
Em sua primeira experiência na direção de um longa-metragem, Chiwetel Ejiofor esbanja sensibilidade no drama “O Menino Que Descobriu o Vento”, novo filme original produzido pela Netflix. O ator, que também é roteirista e um dos protagonistas da obra, ganhou notoriedade atuando em “12 Anos de Escravidão” e “Doutor Estranho”. Com roteiro adaptado do livro homônimo escrito em 2009 por William Kamkwamba e pelo britânico Bryan Mealer, a obra conta a história ocorrida em 2001 com a família do próprio William (interpretado por Maxwell Simba, em seu primeiro filme), um jovem de 13 anos que morava no Malawi.
Filho de Triwell (Ejiofor) e Agnes (Aïssa Maïga, da série “Taken Down”), o jovem ganha alguns trocados arrumando rádios e ferramentas da aldeia local. Quando a seca atinge a região, a família e seus vizinhos, que dependem integralmente dos ganhos da agricultura, passam a conviver com as plantações em risco por falta d’água. Com o tempo, a comida também começa a ficar precária. A solução, como adianta o título do filme, virá do jovem estudante: estudar para conseguir criar um gerador de energia eólica para irrigar os campos.
O diretor de fotografia Dick Pope (“Sr. Turner”) utiliza a desolação da seca nas paisagens em meio a narrativa, com planos abertos mostrando a aridez ao redor da aldeia. A proposta lembra “Deus e o Diabo na Terra do Sol” (1964), de Glauber Rocha, uma das principais obras do Cinema Novo, que se apoia na chamada “estética da fome”. Em uma região sem energia elétrica, Pope aproveita os raios solares e as luzes de velas para a composição das cenas.
Assim como a fome, a educação é outro tema base do roteiro. William é uma representação perfeita de que o comprometimento é o melhor companheiro que a educação pode ter. Simba consegue desempenhar bem o seu papel em seu primeiro filme, assim como Ejiofor na direção. O conhecimento do filho sofre com a descrença do pai, que não considera viável uma solução tão simples para uma dificuldade tão grande quanto a fome.
O diretor apresenta a precariedade sem deixar seus personagens se voltarem para a autopiedade. Diferente dos seus antepassados, Agnes acredita que pessoas modernas não precisam rezar para atrair a chuva. Pelo contrário, suas pequenas conquistas são comemoradas com orgulho, como quando Triwell consegue comprar uma roupa social para o filho frequentar a escola. O pai vive entre a fé e o empenho, trabalhando arduamente para não deixar faltar comida para a família ao mesmo tempo em que pede para o vento carregar as nuvens de chuva responsáveis por regar as plantas. O único problema enfrentado por “O Menino Que Descobriu o Vento” é a previsibilidade. Como o título conta, fica evidente que uma hora o garoto vai conseguir realizar a proeza apesar de todos os pesares.
Cobrando para educar em uma região tão necessitada, o governo é visto como uma solução ilusória. A região serve muito bem para fazer campanha eleitoral, mas não recebe apoio quando mais precisa de distribuição de alimentos. Com a máquina da economia ainda apontando para fora da África, o diretor ressalta duas verdades que nunca vão mudar: a fome é o maior dos medos e a educação é a maior das soluções.