Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sexta-feira, 01 de fevereiro de 2019

A Sereia: Lago dos Mortos (2018): água parada

Uma série de clichês amontoados que remetem a filmes e séries de suspense ou terror sem alcançar o patamar de nenhuma das referências usadas.

Roman (Efim Petrunin) e Marina (Viktoriya Agalakova) são um jovem casal de noivos que deseja construir uma vida juntos. Ele é um nadador nato, enquanto ela mal consegue boiar em uma piscina. E dessa mesma água que difere o par, surgirá uma figura sobrenatural com o objetivo de separá-los. “A Sereia: Lago dos Mortos” é uma adaptação moderna dos contos de sereias malignas, dirigido por Svyatoslav Podgaevskiy (“A Noiva“).

Depois de uma briga sem sentido do casal, Roman e seu amigo e também nadador Ilya (Nikita Elenev) seguem para uma antiga cabana afastada da cidade, que pertence aos pais do protagonista, para espairecer. E é lá, na lagoa próxima da casa, que o jovem noivo acaba se deparando com a sereia que o amaldiçoa e assombrará sua vida e a de todos que o amam.

Ainda que o cinema russo ser um dos pilares da sétima arte, o cineasta Svyatoslav Podgaevskiy parece ter como referência apenas os filmes e séries norte-americanos. Pouco do que acontece em sua nova obra parece estar ligado à cultura russa contemporânea. Apesar da globalização, espera-se que um filme feito em um país de língua não-inglesa tenha um pouco das características que representam a sua nação sem necessariamente usar estereótipos. Mas o longa em questão poderia muito bem se passar em uma cidade qualquer dos Estados Unidos sem mudar praticamente nada.

A abertura de “A Sereia: Lago dos Mortos” com uma curta animação que conta a lenda da sereia monstruosa. As primeiras cenas, que mostram um contraste entre o lago da entidade e a piscina usada pelos nadadores, criam uma atmosfera interessante que não é atendida no decorrer do filme. Os atores jovens, esbeltos e inexpressivos com roupas curtas em boa parte da produção, por sua vez, remetem ao cinema de “Sexta-Feira 13” ou “A Hora do Pesadelo”, sem ter a qualidade de efeitos práticos ou viradas de roteiro criativas presentes nesses clássicos.

Os únicos pontos positivos ficam para o design de produção, nas escolhas de cores azuladas e esverdeadas que fazem com que os cenários, independente de ter água ou não, tenham uma conexão imediata com esse elemento. Pias, banheiras, piscinas, entre outros peças, parecem assombrar os ambientes e servirem como uma memorabilia de que a sereia pode agir a qualquer momento.

Contudo, quando a atenção é voltada para os sons, tão importantes para o cinema de suspense e terror, “A Sereia: Lago dos Mortos” se perde completamente. E esse elemento, que deveria contribuir para os sustos, tensão e sensação de incômodo ou desconforto, é tão alto que o tiro sai pela culatra, resultando em um efeito cômico não pretendido. Essa história sobre a assombração da sereia maligna vale, no final das contas, como um estudo de caso de que sustos, contos antigos e barulhos não são o suficiente para fazer uma boa obra de terror.

Hiago Leal
@rapadura

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