Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

A Morte do Superman (2018): o maior dos heróis

Animação da DC baseada nos Novos 52 supera fim apressado e entrega um Superman por quem as pessoas têm, de fato, carinho.

A DC é famosa por obras de animação de boa qualidade, seja em desenhos para a televisão ou em longas-metragens. Em 2013, com base na fase “Novos 52” dos quadrinhos, iniciou-se o universo cinematográfico das animações da DC, originando-se no filme “Liga da Justiça: Ponto de Ignição”.  Desde então, o ciclo dos Novos 52 se encerrou nas HQs, mas segue firme nas animações. Essa nova roupagem chega agora a uma das histórias mais famosas do Homem de Aço no 11º filme desse universo com “A Morte do Superman”.

O longa traz elementos da história publicada nos anos 1990, mas não é exatamente uma cópia dela. A parte principal está lá, mas a nova abordagem desse universo baseado nos Novos 52 é a que dita o tom da trama. Superman vive em Metrópolis, no início de seu relacionamento com Lois, que ainda o conhece apenas como Clark Kent. Enquanto se pergunta se deve revelar sua identidade secreta, um meteoro cai na Terra carregando a força destrutiva irracional chamada Apocalypse, que prova ser o teste definitivo para o kryptoniano.

O início do filme tem muito êxito em construir a figura do Superman, com cenas e diálogos ilustrando seu relacionamento com o público junto com outros elementos que revelam traços da sua personalidade e sua visão de mundo. Vemos pessoas o chamando para tirar selfies, gritando palavras de apoio ao vê-lo enquanto passam de carro, e diálogos com personagens como Bibbo Bibbowski que engradecem a figura querida do Homem de Aço perante o público. Também há conversas com Lois, membros da Liga da Justiça e com os próprios pais, que são janelas para a alma do último filho de Krypton. Toda essa leveza e alegria que envolve a figura do herói no início do filme só faz crescer o sentimento de pesar pelo que virá.

De similar à história original publicada na década de 90, temos a falta de origem do Apocalypse. É apenas um ser movido pela raiva e violência que chega do espaço com a única função narrativa de ter poder o bastante para rivalizar com o Superman. Ele chega coberto por uma roupa misteriosa que vai se rasgando aos poucos conforme ele batalha com outros heróis, revelando o visual completo do vilão apenas na luta final – um pequeno artifício visual da narrativa de construção do personagem que funciona. Tal origem foi explorada nos quadrinhos posteriormente e deve chegar às animações em algum momento.

Nos quadrinhos, Apocalypse enfrenta membros da Liga da Justiça Internacional quando chega na Terra. Por mais que possam ter sido lutas empolgantes, eram personagens não muito conhecidos do grande público. Neste “A Morte do Superman”, o vilão enfrenta e derrota a Liga da Justiça clássica logo no início, com seus membros mais fortes e célebres. Saber que essa força é capaz de vencer batalhas contra Mulher-Maravilha, Batman, Lanterna Verde, Flash e cia transmite bem o nível da ameaça, elevando a importância do Superman como protetor.

As cenas de lutas possuem bons detalhes e animação com a qualidade costumeira das animações da DC (ao mesmo tempo, fica a reflexão: ela não poderia ter evoluído mais nesses anos todos?); e a inserção de elementos de anime estilizam bem a destruição proporcionada por um embate daquela dimensão. Estruturas de concreto são dizimadas, há explosões por todos os lados e janelas são estilhaçadas apenas com o massivo deslocamento de ar dos socos desferidos. A direção acertadamente encaixa momentos em que Superman procura proteger e salvar pessoas da destruição da luta, novamente enobrecendo o protagonista.

Entretanto, nem tudo são flores. Se Lois é bem representada aqui como a mulher determinada e destemida das HQs, a relação com Clark é apressada e um momento que deveria ter grande peso é desperdiçado porque o foco logo muda para a ameaça de Apocalypse. Lex Luthor também é bem construído, mas pouco tem a fornecer para a trama. Todo o seu “arco” mais parece estar lá como parte de um episódio de um seriado, e não como uma peça de um filme fechado. E o principal problema do longa: o final. Não a morte já anunciada pelo título, mas a pressa em já tentar estabelecer a sequência vindoura com o título “Reino do Superman”. O luto pela perda do maior herói da Terra mal é sentido porque pouco tempo de tela é dedicado à dor dessa perda. Isso acaba derrubando muito do sentimento de carinho pelo Superman que, até então, vinha sendo muito bem desenvolvido. Os últimos minutos são um desserviço para o longa inteiro.

“A Morte do Superman” faz o que “Batman vs Superman – A Origem da Justiça” não conseguiu: criar um protagonista cativante para deixar o público chocado com sua morte. Se a comoção aqui não é grande pois o próprio título já entrega o final, os elementos narrativos para ilustrar a importância de Kal-El para os moradores de Metrópolis e para que o público o conheça mais intimamente funcionam muito bem. Com diálogos inocentes que seriam piegas se fossem sobre qualquer pessoa, mas que soam sinceros quando se tratam do Superman, e com alguns outros que até homenageiam o longa de 1978, a DC entrega uma obra que enaltece aquele que é, para muitos, o maior herói de todos.

Bruno Passos
@passosnerds

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