Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 30 de dezembro de 2018

O Candidato Honesto 2 (2018): quando a política brasileira é mais engraçada

Nova comédia de Leandro Hassum ri de tudo e brinca com a atual situação política do país, sem inovar ou se tornar relevante.

A política brasileira é um dos maiores rivais do humor nacional. Ela chega a ser tão absurda que vários fatos parecem sair diretamente da ficção. Seja de um post do Sensacionalista, ou uma esquete do “Hermes & Renato”, em alguns momentos chega a competir de igual pra igual com a série “House of Cards”, da Netflix. É exatamente nisso que o humor de “O Candidato Honesto 2” se apoia e encontra seus melhores momentos, referenciando tudo aquilo que aconteceu de mais relevante e absurdo nos bastidores políticos.

Após cumprir quatro dos quatrocentos anos de pena, João Ernesto (Leandro Hassum, “Até Que a Sorte Nos Separe”) sai da prisão (em uma cena que lembra muito o início de “Cabo do Medo”), disposto a levar uma vida simples, até que salva uma criança de um afogamento e volta aos holofotes. Com a ajuda de seu vice Ivan Pires (Cassio Pandolfh, da série “Sob Pressão”), se candidata e vence as eleições prometendo mudar tudo, mas vai precisar passar por cima de todos, incluindo seus aliados, para isto.

Ao colocar o protagonista (que tem uma ótima justificativa para a mudança de peso de Hassum) contra seu vice, o filme se torna uma espécie de paródia de tudo aquilo que permeou os noticiários desde o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff em 2016, que é “homenageada”na personagem de Mila Ribeiro (“Mundo Cão”), com direto as suas tradicionais pedaladas. Já Ivan nada mais é do que a caricatura vampiresca do presidente Temer, uma piada que com o passar do tempo fica desgastada.

Aliás, é perceptível que o diretor Roberto Santucci (“De Pernas Pro Ar”) deixa seus atores improvisarem em muitos momentos, principalmente nos longos monólogos de Hassum, que até se sai bem em alguns deles, já que perdeu todo seu aparato de piadas corporais devido à perda de peso. Infelizmente, humorista e diretor se empolgam demais, e parecem querer gastar tempo, dando exagerados 107 minutos à produção.

As atuações do restante do elenco também não são das melhores, com o destaque negativo ficando para Amanda (Rosanne Mulholland, a professora Helena da novela “Carrossel”) que transmite a sensação de não querer estar ali – em algumas partes ela parece estar literalmente lendo suas falas. Ao tentar encaixar algumas cenas dramáticas, a produção se perde completamente em longos episódios constrangedores, que parecem fazer uma espécie de transição entre esquetes que, como em todo programa de humor, apresenta umas mais eficientes que outras.

“O Candidato Honesto 2” parece um aglomerado de piadas divididas em blocos. Algumas até funcionam, mas a maioria peca pelo excesso, sem contar o velho humor preconceituoso e estereotipado. Fazer referência aos desastres políticos, tanto brasileiros como mundiais, arranca risadas muito mais pelos paralelos com a realidade, do que com a qualidade de um bom roteiro. Dito isto, é fácil se identificar com frases, recriação de momentos (o julgamento do ex-presidente Lula é idêntico, por exemplo) e situações, mas a realidade consegue ser muito mais engraçada, com uma pitada de tragédia e relevância que a comédia não consegue apresentar.

Tiago Soares
@rapadura

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