Cinema com Rapadura

OPINIÃO   segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

Simplesmente Amor (2003): o amor e o Natal em todo lugar [NATAL]

Richard Curtis consegue entregar um filme cativante. Mesmo com grande quantidade de personagens e histórias que se cruzam de alguma forma, o roteiro não se perde e flui bem, resultando numa ótima obra natalina sobre as várias formas de amor.

Na época do Natal, muitos procuram estar com aqueles que amam. E há vários tipos de amor. O romântico, o paternal, o maternal, o fraternal, entre amigos… a lista segue. Richard Curtis, escritor dos ótimos “Quatro Casamentos e um Funeral” e “Um Lugar Chamado Notting Hill”, se aventurou pela primeira vez na direção para discorrer sobre todos esses tipos de amor em “Simplesmente Amor”, filme que também roteirizou.

Se valendo de várias histórias e personagens que se conectam de uma maneira ou outra, Curtis habilmente consegue apresentar e desenvolver diversos núcleos e tramas sobre as variadas formas de amor e entrelaçá-las muito bem. Com um elenco talentoso e estelar, o filme é deliciosamente cativante e divertido, e não cai na armadilha da pieguice de apenas ter histórias felizes.

Há muitas tramas. A do Primeiro-Ministro (Hugh Grant, estrela dos longas citados acima, trazendo sua insegurança charmosa de sempre) e sua funcionária Natalie (Martine McCutcheon, adorável) que se apaixonam, mas deixam o receio de seus cargos impedi-los de agir; a do padrasto Daniel (Liam Neeson, “The Ballad of Buster Scruggs”, frágil e carinhoso) preocupado com seu filho Sam (Thomas Brodie-Sangster, “Maze Runner: A Cura Mortal”, cativante) após o falecimento da mãe; a da irmã Sarah (Laura Linney, de “O Jantar”), carregando o constante peso de ter que cuidar do irmão que precisa de cuidados especiais e, com isso, se vê dividida entre se dedicar a ele ou a si mesma; e muitas, muitas outras.

Destaque para a história de Jamie (Colin Firth, “O Retorno de Mary Poppins”, desolado e comicamente bobo), que sofre grande desilusão amorosa e conhece Aurélia (Lúcia Moniz, de “Soldado Milhões”, serena e leve). De países diferentes, não falam o mesmo idioma, mas se comunicam por sentimentos. É um bom exemplo da qualidade criativa da narrativa de Curtis.

Há mesmo muitas tramas, e pelo menos uma que é totalmente descartável (a do sem-noção Colin – Kris Marshall, de “Depois dos 30”). Ela é tão ridícula e fantasiosa que faz mais é rir de nervoso. Além disso, é de longe a mais datada, ultrapassada e, para os dias de hoje, de muito mal gosto. Sem contar que sua influência narrativa no filme é nula. Apesar de tudo, a obra não é inchada e flui tranquilamente. Curtis consegue entregar desenvolvimento para seus personagens e importância para as situações em que se encontram, tudo num clima leve, sem cair para o drama pesado e, assim, mantendo o tom coeso.

O roteiro não teria rendido tão bem se não fosse o baita elenco, que conquista e faz as histórias renderem. Há vários momentos marcantes aqui. A cena em que a personagem de Laura Linney abre mão do que tanto queria para ir cuidar do irmão dá um aperto em qualquer coração; Emma Thompson (“Johnny English 3.0”) entrega uma personagem que faz malabarismos com as várias facetas da sua vida e sua reação ao CD que ganha de Natal do marido (Alan Rickman, de “Alice Através do Espelho”) é lancinante; e Keira Knightley (“Colette”) desempenha o que é facilmente uma das melhores cenas em que “a ficha cai” para um personagem.

“Simplesmente Amor” é um filme que fala desse sentimento que tem tantas camadas e vertentes, que é capaz de nos trazer imensas alegrias e tristezas, que é fonte de enormes preocupações e de genuíno carinho. Assistir a uma obra destas perto do fim do ano alimenta o espírito de querer estar junto daqueles que amamos. Nas palavras do vovô roqueiro Billy Mack (o hilário Bill Nighy, de “A Livraria”), “o Natal está em todo o lugar”, e o amor também.

Bruno Passos
@passosnerds

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