O novo corte de “Deadpool 2” abandona parte da essência do personagem para atingir uma classificação indicativa mais abrangente, mas compensa com cenas novas e hilárias.
A pergunta que não quer calar: o que “Era uma Vez um Deadpool” traz de novo que justifique rever “Deadpool 2”? Essa é a terceira versão lançada do mesmo filme (a segunda foi uma edição estendida para home video conhecida como “Super Duper Cut“), dessa vez com a justificativa de ganhar mais dinheiro ampliar a audiência para uma classificação indicativa menos restritiva. Isso significa que o longa foi recortado para remover palavrões e diminuir o tom violento, mas Ryan Reynolds (“Lanterna Verde”) e cia incluíram material extra para compensar e deram nova roupagem a essa alternativa.
No original, Wade “Deadpool” Wilson narra a história diretamente ao espectador. Nesta nova versão, ele sequestra o ator Fred Savage (conhecido pela série “Anos Incríveis”) e o obriga a ser ouvinte da história recriando o “cativeiro” com o cenário e figurino do seu personagem no filme de 1987 “A Princesa Prometida”. A nova estrutura permite que Reynolds interrompa o filme de outras maneiras, não só quebrando a quarta parede, e faça bastante piadas sobre o próprio material e o ato de polir o conteúdo adulto. Para o público que já foi conquistado por “Deadpool 2”, o carisma e a comédia entre Fred e Wade bastam para valer um novo ingresso. De resto, a trama em que o desbocado herói enfrenta o vilão Cable (Josh Brolin, “Vingadores: Guerra Infinita”) para proteger o incompreendido menino mutante Russell (Julian Dennison, “A Incrível Aventura de Rick Baker”) continua a mesma.
Para o público que por acaso não viu “Deadpool 2” e quer fazer desta nova versão a primeira vez, é importante saber que na exclusão das cenas de violência explícita se foram também fatores essenciais do personagem principal e, convenhamos, uma parte crítica para o espírito da produção. Sem poder mostrar derramamentos de sangue, “Era uma Vez um Deadpool” não consegue apresentar com eficácia as habilidades de luta e regeneração do super-herói e perde demais do trabalho do diretor David Leitch (“Atômica”) a ponto de deixar confusas certas cenas de ação, como as da batalha final. Caem também sequências inteiras da versão original como a do combate em Hong Kong e a dos créditos iniciais (com a música-tema da Celine Dion). Porém, o espaço aberto com os cortes permitiu não somente a inserção das cenas com Savage, mas também de sequências da versão estendida ‘Super Duper Cut’ inexistentes na versão original do cinema, por exemplo, as tentativas de suicídio de Wade que incluem até material inédito.
“Era uma Vez um Deadpool” também modifica algumas frases e detalhes das versões anteriores fazendo com que a experiência de rever se torne uma divertida caça às diferenças para quem é familiar com “Deadpool 2”. Como exemplos, o grafite em homenagem a Stan Lee (inserido na hilária sequência de voo dos X-Force) foi atualizado, assim como os rótulos da cocaína escondida de Wade. As restrições do novo formato também ofereceram oportunidades criativas e bem aproveitadas de fazer humor com as censuras, criando brincadeiras com imagens borradas e os bipes que substituem palavrões. A chance de revisitar o filme ainda abriu brechas convenientes para endereçar com bom humor algumas críticas que a versão original recebeu.
O que no papel parecia ser uma desnecessária e oportunista versão, na prática surpreende e até recompensa os fãs, adicionando novas perspectivas (e muitas piadas) ao prazer de rever “Deadpool 2”. Entretanto, em caso de primeiro contato com o filme, as cenas com Fred Savage não possuem o mesmo impacto para um novo público, pois interrompem a narrativa para fazer comentários que fazem mais graça para quem já viu alguma das versões anteriores. Além disso e de forma mais crítica, o melhor do humor e da ação de Deadpool é consideravelmente perdido na edição.
Uma última informação importante: há novas cenas pós-créditos. Fiquem até o final.