A hilária e carismática comédia de ação com Chris Tucker marca o crossover de Jackie Chan desde artista cult oriental para estrela internacional.
O lutador, ator e dublê Jackie Chan (“Bater ou Correr”) já ostentava mais de trinta anos de carreira no cinema de Hong Kong, incluindo participações em filmes de Bruce Lee como “Operação Dragão”, antes de seu sucesso atravessar o oceano e atracar em Hollywood. A revelação tardia como astro mundial da comédia de ação veio em 1998 com “A Hora do Rush”, do diretor Brett Ratner (“X-Men: O Confronto Final”), ao lado do estridente comediante Chris Tucker (“O Lado Bom da Vida”).
No filme, Jackie interpreta Lee, um inspetor de confiança do cônsul recém-nomeado diplomata chinês nos EUA. Quando a filha do representante oficial é sequestrada em Los Angeles, Lee é chamado para ajudar pessoalmente nas investigações contra a vontade do FBI. A chegada de Jackie à América também marca seu primeiro papel no idioma inglês, fator necessário para acompanhar o incessante falatório do agente Carter, seu parceiro no longa. O personagem de Tucker é um lambão membro do departamento de polícia de Los Angeles que é chamado ao caso, mas com o único objetivo de distrair e afastar da investigação o indesejado inspetor chinês. A atribuição ingrata mexe com o orgulho de Carter, que então decide resolver o sequestro sozinho, só que com Lee a tiracolo.
A surpresa de Carter ao descobrir as habilidades do inspetor Lee é semelhante a do grande público mundial, que até então desconhecia o trabalho de Jackie Chan, já que o alcance do cinema asiático não era tão grande quanto o de Hollywood. O chinês coreografa e executa as próprias cenas de luta sem necessidade alguma de dublê, inclusive nas partes mais perigosas. Acima disso, seu diferencial está ainda no carisma do sorriso tímido e na falta de jeito que transparece tanto na atuação quanto no estilo das lutas, ao usar qualquer objeto de improviso contra os inimigos e preferindo o combate mão a mão ao uso de armas. Tais características fazem com que a persona de Jackie se pareça com a de um homem comum, favorecendo a identificação da audiência e justificando sua posição como um dos artistas mais bem-sucedidos do cinema.
Enquanto a ação de “A Hora do Rush” gira em torno de Chan, o centro cômico fica com Tucker, que encaixa piada após piada com seu jeito histérico do idiota bem intencionado que não sabe ficar quieto. Como espectador, é difícil diferenciar quando as memoráveis frases do expressivo ator aparecem a partir do roteiro ou são de improviso, mas o resultado é sempre hilário. O tagarela enfileira referências a nomes, danças e músicas da cultura pop e ainda tem espaço para encenar uma referência a “Os Sete Samurais”, quando ele não enxerga de onde veio um golpe como o samurai bêbado de Kurosawa. As alusões ao cinema asiático também estão presentes na montagem do prólogo em Hong Kong, na composição instrumental da trilha e, é claro, na trama e em gags importadas de filmes anteriores do próprio Jackie Chan, como “O Mestre Invencível”, “Mr. Nice Guy – Bom de Briga” e “Police Story – A Guerra das Drogas”.
A ótima química entre os personagens de Jackie e Chris, tanto nos diálogos quanto nas cenas de ação, traz para “A Hora do Rush” uma essência querida e divertida que o diferencia de outros títulos que unem comédia e artes marciais. Marca dos filmes de Chan, a exibição de erros de gravação (bloopers) durante os créditos, para encerrar a experiência fílmica com uma batida positiva, aqui nem se faria necessária devido ao resultado final já mais que agradável. A receita de sucesso ainda fez nascer uma franquia “Rush Hour”, com sequências que repetiram a parceria dos protagonistas e também uma série de TV, e elevou o nome de Jackie Chan do cinema cult ao status de grande estrela global.