Mesmo contando com nomes de peso na produção e elenco, o longa não explora o bom plot e desperdiça talentos e temas.
Steve McQueen (“12 Anos de Escravidão”), Gillian Flynn (“Garota Exemplar”) e Viola Davis (“Um Limite Entre Nós”). Com essa trinca de nomes influentes e poderosos da nova Hollywood encabeçando a produção, chega aos cinemas o esperado thriller/drama “As Viúvas“, baseado no livro homônimo de Lynda La Plante (roteirista da série “Prime Suspect 1973”). Se sobram atores de peso para dar vitrine ao longa, infelizmente existe uma incômoda falta de foco nos (inúmeros) assuntos que a obra trata.
Veronica Rawlings (Viola) é a esposa do criminoso Harry Rawlings (Liam Neeson, de “O Passageiro”), que é morto pela polícia, juntamente com seus comparsas de assalto. Sem recursos para pagar uma dívida de crime do marido, ela decide recrutar as também viúvas dos companheiros que morreram com ele para um “último golpe”. Assim, entram no jogo a imatura e destratada Alice (Elizabeth Debicki, de “O Paradoxo Cloverfield”) e a marrenta Linda (Michelle Rodriguez, de “Velozes e Furiosos 8”), ambas em situação financeira precária.
Só este plot já poderia gerar um bom suspense de assalto, onde as mulheres tomariam o controle da situação, normalmente assumida por homens em produções deste gênero, e aceitariam os riscos de suas ações. Porém, para a roteirista Gillian Flynn e para o também roteirista e diretor Steve McQueen, isto não parece saciar a vontade mútua de ambos em abordar algo mais dramático e impactante. Assim, eles decidiram rechear o filme com diversos subplots de temas importantes e execução pífia.
Machismo, racismo, corrupção, política, submissão, guerra de classes, xenofobia, prostituição, assédio, traição, luto e mais uma dúzia de assuntos pertinentes ao mundo de hoje são abordados frouxamente durante as cansativas 2 horas de duração. Um exemplo é o empoderamento lento de Alice – de longe a melhor coisa do filme -, que inicia sua história como a garota loira, bonita e burra, que ninguém dá a mínima, e no meio do longa já está se utilizando de suas características físicas para ajudar no assalto. Porém, seu desfecho é abrupto e incoerente com sua trajetória, o que, de certa forma, invalida quase tudo o que ela representa.
Nas atuações, Viola parece se espelhar em Rodriguez e repete interpretações anteriores da carreira, não trazendo nenhuma nova nuance para sua personagem. Os ótimos Carrie Coon (“Vingadores: Guerra Infinita”), Robert Duvall (“O Juiz”), Daniel Kaluuya (“Corra!”) e Jacki Weaver (“Artista do Desastre”) são subaproveitados ao extremo e mal ganham espaço. A única que consegue alguns bons diálogos é Elizabeth Debicki, que mesmo não tão conhecida – ela é a extraterrestre dourada e metida de “Guardiões da Galáxia Vol. 2” – mostra que possui talento para bons papéis.
O tom quase teatral dos diálogos, com uma importância exagerada e beirando a arrogância, somada aos gestos e atitudes pouco críveis, deixam a obra com uma cara de pastiche social. Algo feito para chocar e que, por este mesmo motivo, acaba não impactando. As incongruências do tão esperado e inacreditavelmente mal aproveitado assalto, que ocorre, sem motivo, somente no terceiro ato, acaba “coroando” um filme que mira em diversos alvos, mas que possui um atirador ansioso, tremelicante e desorientado.
Com um elenco muito forte, mesmo que mal utilizado, e muita grife, “As Viúvas” é um filme que parece não atingir os objetivos que almeja, ao mesmo tempo que, invariavelmente, cansa seus espectadores com muita retórica vazia, personagens pouco desenvolvidos e um plot twist vergonhoso no final.