Utilizando-se de atores poucos conhecidos, Paul Greengrass traz um ar documental ao seu novo filme, sem perder a qualidade de sua câmera trépida e caótica.
Ao fim dos créditos da produção, o diretor Paul Greengrass (“Jason Bourne“) dedica o longa às vidas das vítimas dos que foram e ainda são afetados com o atentado. De certa forma, isso sintetiza o que acabamos de assistir, já que é mostrado muito pouco do acontecido e muito mais dos seus desdobramentos. Já tendo trabalhado com outros filmes com uma abordagem terrorista (“Voo United 93” e “Capitão Phillips“), Greengrass parece a escolha certa para contar a história deste “22 de Julho” de 2011, onde a Noruega sofreu dois ataques terroristas seguidos, os maiores de sua história.
Após explodir uma van próxima a um dos principais prédios do governo norueguês em Oslo, Anders Behring Breivik segue até a ilha de Utoya, onde acontece um acampamento de jovens considerados o futuro da política. Aos gritos de “marxistas”, ele assassina a sangue frio sessenta e nove deles. Anders é de extrema direita e possui fundamentos que beiram ao fascismo e ao nazismo, flertando com uma visão anti-globalizada e totalmente contra o pluralismo trazido pelos refugiados em seus país.
A primeira meia hora é angustiante. Greengrass mostra todo seu talento e traz tudo que deu certo na conhecida franquia “Bourne”: a câmera frenética, a tensão acarretada pelos eventos que acontecem quase ao mesmo tempo, o ponto de vista do atirador, em atuação fantástica de Anders Danielsen Lie (“A Noite Devorou o Mundo“), e a corrida pela vida de boa parte daqueles jovens. O diretor faz questão de mostrar tudo sem rodeios, muitas vezes caminhando na linha tênue entre a veracidade e o sadismo, porém felizmente não ultrapassando o último. É no mínimo chocante ver jovens sendo baleados de maneira tão covarde, e ao utilizar de atores não tão conhecidos do grande público como fez em “Voo United 93″, acaba trazendo verossimilhança a obra.
Baseada no livro de Åsne Seierstad, o roteiro também assinado por Greengrass abandona a tensão inicial e dá lugar as consequências dos ataques, que mataram ao todo 77 pessoas, dividindo o filme em três núcleos. Os dois mais interessantes são aqueles focados nos sobreviventes, com destaque para o jovem Viljar (o estreante Jonas Strand Gravli), assassino que apresenta seus motivos para tais atos, acompanhado de seu advogado Geir (Jon Øigarden) que vive um conflito interno ao defendê-lo. O plot mais fraco se encontra na parte política, representada na figura do primeiro-ministro (Ola G. Furuseth).
Tendo bagagem para ser a história mais atrativa, o que vemos é um bom ritmo sendo quebrado devido ao prolongamento de cenas que não são importantes para o todo, o que acaba afetando o núcleo do sobrevivente ao inseri-lo num romance forçado, e também o do terrorista, ao enchê-lo de frases de efeito e sorrisos sarcásticos. O que salva o primeiro são as camadas que Jonas traz ao seu Viljar, que praticamente vira outro personagem após o atentado. O segundo fica a cargo do drama do advogado de Anders, que tem a vida completamente virada ao mesmo tempo em que é nítido notar o incômodo na atuação poderosa de Jon.
A fotografia em tons opacos de Pål Ulvik Rokseth (“Boneco de Neve“) deixa tudo com um clima de velório, utilizando-se da Noruega fria tanto em ambientes externos como internos. De vez em quando há um certo exagero no excesso da trilha para deixar tudo ao redor ainda mais triste e caótico, o que não destrói a imagem de um 22 de julho que se estende até hoje.