Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sexta-feira, 23 de novembro de 2018

Operação Final (2018): a disputa entre vingança e justiça

Uma encenação que vale mais como registro de um caso real do que como obra cinematográfica.

Os nazistas são vilões. A cultura pop norte-americana fez questão de ressaltar isso desde o surgimento da ideologia. Foram produzidas histórias em quadrinhos, peças, livros, séries e jogos sobre o período. E no cinema não foi diferente. Houve da ascensão da doutrina em “Tempestade D’Alma” nos anos 1940, até a vingança no passado imaginário de “Bastardos Inglórios”, do já distante ano de 2009. Agora, “Operação Final”, dirigido por Chris Weitz (“A Saga Crepúsculo: Lua Nova”), traz o pós-guerra com a caça de um dos principais nomes da chamada Solução Final, que levou mais de 6 milhões de judeus à morte.

A trama é baseada nos eventos reais ocorridos em Buenos Aires, Argentina, no início dos anos 1960. O serviço secreto israelense Mossad descobre que o tenente-coronel nazista Adolf Eichmann (Ben Kingsley, de “A Travessia”), coordenador das deportações de judeus e outras minorias aos campos de concentração, está vivo. Uma equipe é formada para realizar a extração do criminoso de guerra e levá-lo a julgamento em Jerusalém, Israel. Um dos principais membros desta equipe é Peter Malkin (Oscar Isaac, de “Aniquilação”), que assim como muitos judeus, perdeu membros de sua família para o holocausto.

O primeiro-ministro de Israel discursa brevemente para a equipe de espiões antes do início da operação. “O livro de memórias está aberto e vocês são as mãos que seguram a caneta”, declara ele, colocando uma grande carga histórica sobre o grupo. Enquanto isso, o crescimento da célula nazista de Buenos Aires expõe um outro lado. O lado que busca trazer de volta o movimento liderado por Hitler. “Em breve poderemos sair das sombras”, afirma um dos porta-vozes, na interpretação mais forte do filme realizada por Pêpê Rapazote (da série “Narcos”). Mas a verdadeira disputa mostrada no filme não é dos judeus israelenses contra os alemães nazistas, e sim entre a compreensível sede por vingança dos agentes secretos e o senso de justiça deles.

O elenco traz atores de qualidade, como a francesa Mélanie Laurent, que revive seu papel da caçadora de nazistas Shosanna, de “Bastardos Inglórios”, mais comedida desta vez. Entretanto, é nas atuações de Oscar Isaac e Sir Ben Kingsley que o filme enfoca. Ambos já mostraram sua versatilidade em trabalhos anteriores e desempenham em “Operação Final” performances mais apagadas. Kingsley encarna um militar que contribuiu para a morte de milhões, e mesmo assim tem uma aparência inofensiva ou até mesmo simpática, mas as suas expressões e fala não traduzem toda essa complexidade. E Isaac dá a impressão de estar no piloto automático. Sua interpretação, de alguém com tamanha responsabilidade, não mostra o peso que o verdadeiro agente Peter Malkin deve ter sentido.

A direção de Chris Weitz se mostra criativa ao colocar uma troca de informações entre os agentes em um café, numa sequência sem cortes com uma mensagem passando de mão em mão rapidamente. A câmera vai de um dos infiltrados do Mossad para o garçom, mostra o movimento do garçom pelo salão do café através de um espelho, enquanto outro infiltrado tira a mensagem sem ser notado de um chaleira. Mas boa parte das gravações entregam algo mais próximo de uma dramatização histórica para a televisão do que um filme propriamente dito.

São a abordagem equilibrada e a curiosidade de como se deram estes eventos que tornam o longa interessante. Se, com todo os registros históricos, ainda existem pessoas que defendem este e outros regimes autoritários, imagine um mundo sem obras que se dão o trabalho de explicar, de maneira didática, todos os malefícios que o nazismo, fascismo e outros tantos “ismos” provocaram na sociedade.

Hiago Leal
@rapadura

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