Com um tipo de humor inocente, direcionado ao público infantil, longa deixa sensação de potencial inexplorado.
É difícil pensar em stop motion sem pensar em Nick Park, diretor de “Fuga das Galinhas” e “Wallace & Gromit: a Batalha dos Vegetais“, este último vencedor do Oscar de Melhor Animação de 2006. Em mais uma produção da Aardman Animations, com sua tradicional técnica de animação baseada em massa de modelar, Park apresenta uma proposta mais audaciosa: “O Homem das Cavernas“.
O longa começa em uma época onde dinossauros e homens viviam juntos. Após a queda de um meteorito que dizimou as criaturas pré-históricas, o fragmento espacial ficou em um formato de uma bola. Assim foi criado o futebol, com homens das cavernas improvisando as traves com rochas gigantes.
Após uma passagem de tempo, o filme apresenta Doug (dublado por Eddie Redmayne, de “A Garota Dinamarquesa” e Marco Luque, de “Talvez uma História de Amor”, na versão em português), um homem das cavernas que vivia caçando coelhos e que mora no vale com a sua tribo, liderada pelo chefe Bobnar (Timothy Spall, de “Alice Através do Espelho”).
Tudo seguia bem até a invasão dos guerreiros da Idade do Bronze, comandados por Lord Nooth (Tom Hiddleston, de “Thor: Ragnarok“), que desejavam o minério do vale em que a tribo mora. Na cidade de bronze, o protagonista descobre que as principais decisões na região eram resolvidas em partidas de futebol. Sabendo disso, desafia o time do Lord: quem ganhar o jogo, fica com o vale. Assim, o protagonista fica responsável por treinar seus amigos, que até então, não faziam ideia sobre os conceitos do esporte.
Se por um lado a proposta do filme é complexa, por outro, prefere apostar em um humor direcionado ao público infantil. As melhores piadas do longa ficam limitadas aos criativos treinos de futebol dos homens das cavernas e ao animal de estimação de Doug, o Porcão (dublado pelo diretor Nick Park).
O roteiro escrito por Mark Burton (“Shaun: O Carneiro”) e James Higginson (estreante em longas-metragens na função) demonstrava potencial, afinal, Burton também foi roteirista de “Madagascar” e trabalhou com Park em “Fuga das Galinhas” e “Wallace & Gromit”. Entretanto, a obra insiste na inocência da tribo e em ações do Lord Nooth, que tenta diversas vezes anular a partida com ameaças e trapaças.
Alguns temas deixam a sensação que poderiam ser mais explorados, como, por exemplo, as estrelas do time de futebol da cidade, os animais bizarros da área vulcânica e a personagem Goona (Maise Williams, da série “Game of Thrones“), uma moradora da cidade de bronze, que sonhava em ser jogadora de futebol, mas que era impedida por ser mulher.
Com uma excelente técnica de animação, “O Homem das Cavernas” tenta criar uma dualidade entre a modernidade e o retrógrado, porém a trama se limita ao convencional: os personagens do bem são divertidos e amigáveis, os vilões trapaceiam, destroem as florestas e roubam os seus cidadãos. Tentando dar uma lição sobre humildade, representatividade e trabalho em equipe, o filme não se aprofunda em nenhum destes temas e fica apenas no regular. E, infelizmente, regular é uma palavra que não combina com a Aardman.