Uma produção irregular e uma boa atriz, em um papel interessante, disputam forças neste filme de ação.
Tudo aquilo que é visto nos primeiros minutos de “A Profissional”, dirigido por Babak Najafi (“Invasão a Londres”), remete aos filmes B dos anos 1970 conhecidos como blaxploitation. Taraji P. Henson (“Estrelas Além do Tempo”) produz o longa e é a atriz responsável por dar vida à Mary, uma assassina profissional que trabalha para uma família de gângsters de Boston, nos Estados Unidos. Em uma de suas missões, ela precisa eliminar um homem que devia à família e cumpre o seu papel, mas descobre que o alvo era pai do jovem Danny (Jahi Di’Allo Winston, da série “Everything Sucks!”), de quem ela se sente obrigada a cuidar.
O dilema de uma matadora ser a responsável por um pré-adolescente é a força motriz da obra. Como alguém que ganha a vida cometendo assassinatos pode criar outra pessoa que precisará de bons exemplos ao seu redor? E como o seu chefe Benny (Danny Glover, de “Monster Trucks”) e Tom, o filho do chefe (Billy Brown, da série “Lições de um Crime”), devem lidar com essa escolha? É nesse momento que o pano de fundo do filme de gângsters com cenas de tiroteio dá lugar a história das escolhas e decisões de uma mulher negra, solteira e que conseguiu se destacar em seu “trabalho”.
Diversos filmes de ação têm sido protagonizados por mulheres ultimamente. Tivemos exemplos recentes de filmes ótimos como “Atômica”, fracos como “Traffik” e, infelizmente, medianos como este “A Profissional”. E ele não é razoável pela falta de empenho de Henson. A atriz mostra que é capaz de encarar a máfia assim como Tom Cruise enfrenta terroristas em “Missão Impossível: Efeito Fallout” e Dwayne (The Rock) Johnson combate criminosos em “Arranha-Céu”. Ela convence na pele de Mary, seja nas cenas com o carro, seja invadindo uma casa repleta de homens armados até os dentes. Mas uma produção desleixada é capaz apagar uma boa performance.
O começo do filme é uma delícia. Mary está em seu belo apartamento, malhando, se vestindo e selecionando as melhores armas para sua missão. É quase uma viagem para uma sessão do cinema marginal dos anos 1970. A tipografia é estilizada, uma música soul inicia baixo e vai subindo de volume aos poucos, e tons de cores quentes como vermelho, laranja e amarelo dão um toque final no design. Esses elementos todos vêm do blaxploitation, um subgênero do cinema apelativo e de baixo orçamento chamado exploitation, mas protagonizado por atores negros, nos quais eles poderiam ser heróis e debater com policiais, diferente dos demais filmes ou da realidade segregadora das ruas. Acontece que toda essa aura de homenagem sai de cena aos cinco minutos de projeção e dá lugar a um filme morno com derrapadas e acertos pontuais.
A direção de arte fica a cargo de Carl Sprague (“Os Últimos Guardiões”) e Jennifer Engel (“Fragmentado”), que fazem um bom trabalho no apartamento de Mary, desde as cortinas e almofadas roxas, ao tapete colorido e demais elementos, mas parecem ter se dedicado pouco aos outros ambientes. Já no figurino, Deborah Newhall (“Slender Man: Pesadelo Sem Rosto”) perde uma excelente oportunidade de repaginar o visual dos heróis desse subgênero assim como foi com Shaft, do filme de mesmo nome. As roupas dos personagens são comuns e absolutamente apagadas. Jaquetas de couro, camiseta cinza, terno preto, tudo é sem sal e mundano demais para servir como homenagem ou para caracterizar mafiosos com muito dinheiro.
O sentimento que “A Profissional” deixa no fim da sessão é de um entretenimento OK, que melhora se tiver sido acompanhado por um balde de pipoca e refrigerante. O longa cumpre o seu papel de prestar uma homenagem de qualidade, mesmo que não consiga se igualar ou superar sua referência, como já fizeram Scorsese, Tarantino ou os irmãos Coen. E, talvez por conta de seu desempenho, infelizmente não sejam produzidas outras obras com um pé no blaxploitation em um futuro tão próximo.