Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sexta-feira, 09 de novembro de 2018

Colette (2018): uma história sobre identidade e transformação

Keira Knightley mostra o melhor trabalho da sua carreira no drama biográfico sobre a escritora francesa Sidonie-Gabrielle Colette.

Após a Guerra Franco-Prussiana, no fim do século XIX, a Europa vivia um período de otimismo e com grandes avanços científicos. Paris, na França, era o centro da chamada “Belle Époque”, exalando arte e criatividade com o Art Nouveau e o Impressionismo. É neste contexto histórico que Wash Westmoreland (“Para Sempre Alice”) dirige “Colette”, um drama biográfico que conta a trajetória da escritora Sidonie-Gabrielle Colette, interpretada por Keira Knightley (“Piratas do Caribe: A Vingança de Salazar”).

O longa apresenta a história da escritora na época em que ainda vivia no campo com os seus pais. Quando se casa com Willy (o excelente Dominic West, da série “The Affair”), um escritor que ganha fama com o trabalho feito por escritores-fantasma, a garota passa a morar em Paris, conhecendo um cenário da alta sociedade francesa, que até então parecia muito distante da sua realidade. Em sua primeira aparição no filme, Willy presenteia Colette com um globo com a torre Eiffel, como um convite a uma nova vida e à modernidade.

Incentivada a ser mais uma autora oculta de Willy, a jovem passa a escrever as histórias da sua infância por meio de uma personagem chamada Claudine. Colette teve que aceitar que o seu marido levasse os créditos do livro, que é considerado um enorme sucesso. Claro, com o ótimo retorno, é obrigada a continuar escrevendo mais e, com o tempo, passa a querer reivindicar os direitos das obras.

Com uma extensa filmografia de filmes de época, como “Orgulho e Preconceito”, “Desejo e Reparação”, “A Duquesa” e “Anna Karenina”, Knightley sabe exatamente onde está pisando. Apesar de serem papéis parecidos, trata-se da maior interpretação da sua carreira, apresentando a evolução de uma garota do campo em uma mulher confiante e segura dos seus atos.

Já Dominic West interpreta um personagem com charme em cada diálogo, mesmo quando fala absurdos como se estivesse com razão. A única vez em que Willy coloca as mulheres acima dos homens é quando fala sobre traição: “os homens precisam disso, não são tão fortes quanto as mulheres”. O personagem é tratado como uma pessoa ruim, mas seus atos são mostrados apenas em partes, pois ao longo do roteiro, a protagonista passa a se incomodar com a sua personalidade machista e egoísta.

Por meio da literatura, a personagem principal passa a utilizar Claudine para explanar a sua visão de mundo. Com o convívio com outras mulheres, como Georgie Raoul-Duval (Eleanor Tomlinson, de “Alleycats: Uma Corrida Pela Vida”) e Missy (Denise Gough, de “Juliet, Nua e Crua”), ela passa a perceber a importância de encontrar a sua verdadeira identidade, sem medo de buscar sexualmente quem realmente a atrai.

O ritmo é um pouco lento demais, mas não chega a ser um incômodo na proposta do roteiro, que foi escrito pelo próprio diretor, além de Rebecca Lenkiewicz (“Desobediência”) e Richard Glatzer (“Para Sempre Alice”), marido de Westmoreland, que faleceu em 2015. O filme foi dedicado a Glatzer.

Com “Colette”, o diretor escolhe mostrar uma história sobre transformação, empoderamento e liberdade. A influência de Claudine ajudou a introduzir os livros para milhares de garotas, mas o talento de Sidonie-Gabrielle Colette não parou por aí. Sua personalidade tornou-se algo inspirador para todos aqueles que ainda tentam se encontrar na sociedade.

Fábio Rossini
@FabioRossinii

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