Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quinta-feira, 08 de novembro de 2018

O Grinch (2018): bonitinho, mas limitado

Simples na proposta, mediano no resultado: esta adaptação do livro de Dr. Seuss dificilmente deve aparecer entre as mais marcantes, soando como um filme bonito e nada mais.

O clássico “Um Conto de Natal”, escrito por Charles Dickens em 1843, é uma das mais visitadas obras sobre redenção da história. Com um texto simples, mas muito bem escrito, o livro fala sobre a ganância que destrói o espírito das pessoas, e como sempre há tempo para se redimir. Com diversas adaptações, o livro ganhou releituras em diversos formatos, de jogos de videogame a um episódio da série “Dr. Who”. Uma delas, porém, serviu como inspiração para o livro que deu origem a “O Grinch”.

O filme conta a história do personagem título, uma criatura verde, peluda e rabugenta, que não suporta os habitantes da Quemlândia. Sentindo-se cada vez mais incomodado com a alegria dos Quems, o Grinch decide roubar o natal deles às vésperas das festividades.

A história do Grinch tornou-se, com o passar dos anos, uma espécie de fábula moderna. Uma releitura fantasiosa de diversas narrativas que resulta em algo simples. Escrita por Dr. Seuss no livro “Como o Grinch Roubou o Natal”, a obra tem pouco mais de 60 páginas, o que obriga quem decide adaptá-la a acrescentar elementos para dar mais substância à narrativa. Nesta versão, porém, há pouca novidade. O roteiro apenas se preocupa em atualizar pequenos conceitos, mas a impressão que o filme passa é que esta versão poderia ter sido um curta.

Do início ao fim vemos uma história que demora a prender o público, e que para fazê-lo se agarra em diversos momentos de alívio cômico. Embora o filme seja divertido e o público infantil deve se apegar facilmente com a história, faltam subplots e camadas para tornar a obra atrativa para um público minimamente exigente, um problema que tem se mostrado cada vez mais comum nas produções da Illumination. A produtora se mostra tão pouco inspirada aqui, que algumas cenas parecem ter sido reaproveitadas de outras animações recentes.

Contudo o filme acerta em alguns pequenos conflitos, como as dificuldades que Donna Lou enfrenta por ser mãe solteira, ou no plano de Cindy para ajudar a mãe. E apesar de pouco acrescentar, é o que ajuda a sustentar os noventa minutos da animação. Algo que só se torna menos enfadonho por conta dos personagens carismáticos que surgem de tempos em tempos (a rena Fred se destaca nesse sentido).

O que resta é um roteiro pouco criativo, que não consegue oferecer muito além da obra original, o que é potencializado pelo final já conhecido da história (embora até para quem nunca teve contato com as outras versões, a conclusão aqui é bem óbvia). A dublagem nacional conta com um excelente trabalho de Lázaro Ramos, o que não significa que tenha sido a melhor opção para a personagem. Apesar de consistente e muito forte, há alguns momentos em que ela parece não combinar com a imagem do protagonista. Assim como as trilhas sonoras, que ora agregam à trama, como na cena em que o Grinch rouba os presentes, ora parecem ser apenas uma música escolhida aleatoriamente pelo tema natalino.

Sem querer oferecer uma novidade ou complexidade à história do Grinch, este filme se foca em agradar o público infantil e, talvez, provocar alguns risos num espectador mais experiente. O resultado acerta por deixar claro desde o início com qual dos dois irá dialogar. Se por um lado não há nada de errado em buscar a simplicidade, neste caso parece que ficou faltando algo essencial à qualquer animação: uma aura criativa. 

Robinson Samulak Alves
@rsamulakalves

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