Três heróis sem entrosamento com a câmera, somado a desastrosa montagem do longa, transforma uma belíssima narrativa em uma obra de terror para quem a assiste.
“15h17 – Trem Para Paris” é o típico longa para se ver apenas uma vez e se perguntar: “quando é que o filme vai começar para eu tentar gostar dele?”. Não é a primeira vez que Clint Eastwood dirige uma obra baseada em uma história real, porém parece ser. Aqui ele não consegue acertar a mão da mesma forma que fez na direção de “Sniper Americano” (2014), e as decisões tanto na escalação do elenco como na edição final não aparentam fazer nenhum sentido.
O filme vai além da narrativa vivida pelos passageiros do trem que sofreu o ato de terrorismo, procurando abordar o lado mais humano dos heróis da história. Durante o longa, o diretor tenta nos mostrar a realidade de uma pessoa comum que tenta fazer a diferença no mundo, buscando algo maior desde criança até a vida adulta. A decisão de contar a história dessa forma poderia até cativar o público, mas ela acaba tomando outro rumo e estragando completamente a experiência do espectador.
A história se passa durante um mochilão improvisado, onde os amigos de infância Spencer Stone, Anthony Sadler e Alek Skarlatos (interpretando a si mesmos) se encontram para matar a saudade enquanto conhecem a Europa. O filme intercala entre flashbacks do passado dos heróis enquanto acompanhamos sua trajetória até embarcarem no trem. A improvisação da viagem parece contagiar o time de direção e montagem, e passa a impressão de que o longa também tenha sido improvisado. Fora as boas tomadas de câmera, que nos apresentam belos cartões postais europeus, o filme não nos passa nada menos do que a sensação de tristeza ao ver uma boa história ser destruída por um roteiro confuso e superficial, contando com diálogos rasos e sem sentido.
Stone esbanja falta de carisma, e quando você pensa que ele vai se soltar na frente da câmera conversando de forma natural, demonstrando que realmente está gostando do papo com os amigos, ele volta ao estereótipo de “soldado militar caladão”. Scarlatos está perdido em sua atuação, trazendo uma versão robótica de si mesmo enquanto parece querer ganhar o premio de menos empático da turma. Sadler é o mais carismático entre os amigos, mas nem mesmo suas piadas sem graça o salvam, parte por que ele está contracenando com praticamente duas portas (Spencer e Alek), e parte porque também lhe falta entrosamento com a câmera, afinal, todos estão em sua primeira aparição nas telonas. É visível a falta de técnica de atuação.
A trilha sonora acaba sendo praticamente imperceptível. Eastwood tenta passar sinais de que tem o controle da situação, mostrando, por exemplo, que uma cena apresentada lá no meio do filme na verdade tem uma enorme importância para o protagonista, pois sem antes ter passado por diversas daquelas experiências frustrantes, ele não teria conseguido salvar vidas na derradeira tentativa do ato terrorista ocorrido. Infelizmente, o roteiro fraco da inexperiente Dorothy Blyskal não ajuda.
De fato, a história real é emocionante, e mesmo após achar o filme muito ruim, você ainda se pega pensando em como as experiências da vida sempre te preparam para um acontecimento futuro, podendo te levar da mediocridade ao status de herói. A única nota 10 possível para “15h17 – Trem Para Paris” vai para o ato de heroísmo real dos três amigos que salvaram centenas de vidas.