A atuação intensa de Forest Whitaker prende a atenção, mas o desenrolar do filme, limitado pelo orçamento, revela uma narrativa previsível e sem desfecho.
“Próxima Parada: Apocalipse” abre apresentando o núcleo principal de personagens, o jovem Will (Theo James, de “Divergente”) reluta em contar para seu futuro sogro (Forest Whitaker, de “Pantera Negra”) que sua namorada está grávida. Já deixando claro de início que há uma animosidade entre sogro e genro em uma sequência com diálogos objetivos, o filme não gasta tempo em jogá-los numa viagem de busca no meio do caos de um misterioso apocalipse.
Enquanto o experiente Whitaker faz um ex-fuzileiro durão e protetor que anda armado, o bom moço de James não segura o protagonismo, cabendo ao ator a função de motorista enquanto cortam os Estados Unidos de carro. Aliás, é interessante observar as semelhanças de narrativa entre “Próxima Parada: Apocalipse” e “Logan”, pois trocando-se apenas a Limousine pelo Cadillac, é possível constatar o mesmo núcleo de personagens, o apocalipse, o road movie, entre outros.
O diretor David M. Rosenthal (“O Cara Perfeito”) tenta criar imagens à contra luz com estilo, insistindo em capturar faróis e postes sempre que o cenário permite. Sem falar na obsessão do diretor em filmar através de vidros, seja ao mostrar a tempestade se aproximando pelas janelas, ou toda a poeira do apocalipse de dentro do carro pelo para-brisas – há poucos planos abertos e na maioria são em zenital (plano do alto diretamente apontado para baixo). Fica claro que a produção de “Próxima Parada: Apocalipse” tinha o orçamento limitado, isso justifica a necessidade de filmar através do vidro, pois assim a utilização do chroma key se torna menos gritante. Por outro lado, essa insistência torna as imagens repetitivas, e o excesso de close up incomoda muito. Grande parte do filme parece ter sido filmado em estúdio, isso justifica as muitas cenas noturnas e a falta de interação dos personagens com a destruição.
É habitual quem em obras desse gênero a condução da narrativa se beneficie de alguma suspensão para contar a história, como as causas dos fenômenos. O problema nesse caso é que em momento algum existe a preocupação em abordar os eventos cataclísmicos, reservando-se apenas a sugerir pelo rádio uma hipótese, e no desfecho um personagem conjecturar a origem do apocalipse, sem deixar claro o que poderia de fato estar acontecendo. Por vezes, o filme parece ter sido gravado às pressas, com as personagens femininas não acrescentando em nada, sendo meramente costuradas na trama sem nenhum desenvolvimento. Não existe empatia na busca pela namorada, mostrando que a motivação dos personagens principais não tem relevância para a trama e para o expectador.
A superação entre sogro e genro diante das adversidades para resgatar a moça indefesa poderia até ser um bom ponto dramático, porém, dentro de um filme despretensioso de vinte anos atrás. Ao ignorar a busca por respostas e não fazer uma abordagem satisfatória do apocalipse, fica o sentimento de que a experiência não valeu a pena e que o diretor até tinha uma história para contar, mas o orçamento o fez entregar um entretenimento descartável. Se tivessem levado adiante os questionamentos científicos e religiosos – mesmo que hipotéticos – a obra teria mais substância. O ponto chave que prende o espectador no início do longa é o questionamento dos reais motivos dos eventos climáticos, com nossa curiosidade sendo motivada durante o caos para no clímax compreender o que está acontecendo. Mas ao tocar nesses assuntos e não ousar levar o argumento adiante, perdemos todo o interesse no resgate da namorada. Não existe o medo da perda se todas as mortes anteriores não tiveram impacto.
Em suma, “Próxima Parada: Apocalipse” fica aquém dos típicos filmes catástrofes dos cinemas, justamente por sua produção não aceitar bem a plataforma de lançamento. Talvez, em formato de série, o roteirista Brooks McLaren tivesse ido além da novela familiar.